É indiscutível que as tecnologias da informação facilitaram, em alto grau, tarefas do cotidiano: pensemos, apenas como exemplo, no pagamento de contas mensais, realizado facilmente através de um app; quem se sentiria saudoso (a) da longa fila na boca do caixa bancário para realizar a mesma tarefa? Sem dúvida que a comunicação se tornou imensamente mais fluida e rápida também, e mesmo decisões importante podem, com o devido cuidado, serem tomadas em ambiente virtual. Ora, as benesses são muitas, mas o que nos traz a esse breve texto são algumas críticas, bastantes resumidas, sobre a problemática de uso dessas tecnologias digitais em ambiente escolar.
Primeiro ponto a sugerirmos: é preciso ultrapassar a cansada dicotomia (como fez tão bem o filósofo francês Gilbert Simondon) entre as tecnologias serem as salvadoras ou as futuras causas da destruição humana: a discussão é muito mais profunda que tal maniqueísmo, pois basta termos a consciência de que as tecnologias [digitais] estão, e se torna tremendamente improvável que abandonadas em busca de um “passado” mais “real” (?).
A questão, dizemos nós, deve se mover mais em torno do uso destas tecnologias, como na verdade se faz cada vez mais, felizmente; e é justamente em torno da questão uso que chamamos a atenção, referindo-nos especificamente à sala de aula e ao labor docente.
Eis, portanto, o segundo ponto: redes sociais e diversas outras plataformas digitais podem engessar o cotidiano[1], fazendo-nos reféns de incontáveis mensagens, vídeos, respostas, posts, convocações, e, se é verdade que cabe a cada um saber regular com temperança o uso das redes digitais em benefício próprio, também é verdade que muitas escolas nos sobrecarregam justamente obrigando o uso contínuo dessas redes digitais, tornando o trabalho docente, já exaustivo, em uma maratona perversa contra o tempo; de certa forma, vivemos ao sabor (e sob o domínio) do tempo digital, muito mais veloz que o tempo do mundo concreto e palpável.
Isso não pode ser considerado bom, nem justo.
O terceiro e último ponto vem sugerir uma reflexão profunda e crítica sobre as plataformas de ensino de grupos empresariais poderosos que vêm chegando céleres às salas de aula: sim, pode ser que facilitem nossa lide, uma vez que tudo vem formatado e pronto para ser aplicado, mas até que ponto, colegas docentes, é-nos aceitável encampar um material com ideologia tão carregada (capitalismo financeiro, meritocracia, competitividade…), tão formatado a ponto de fazer de nosso trabalho quase que um ligar e clicar (como querem tais empresas, por mais que o disfarcem), deixando o cérebro dos estudantes a “receber” a informação, sem comunicação? A crítica aos assuntos abordados nestes materiais deveria ser atenta e contínua, mas quantos estarão dispostos a esse esforço, que não é pequeno?
Assim, colegas docentes, dizemos que a temperança e o embate contínuos são instrumentos absolutamente necessários quando se diz do uso das tecnologias da informação, nada neutras, assim como neutros jamais seremos nós, mestras e mestras em sala de aula.
Sigamos no enfrentamento, juntemo-nos, sindicalize-se!
Alexsandro Sgobin é professor e diretor do Sinpro Campinas
[1] Nesse breve texto não abordaremos a debatida questão dos malefícios psicológicos e mesmo físicos do uso indiscriminado das redes.