Ao longo de séculos, nações europeias acumularam uma vasta coleção de objetos raros provenientes de várias partes do mundo. Esses itens arqueológicos e históricos, retirados de suas regiões de origem na África, Ásia ou América, encontram-se atualmente expostos nos museus do Velho Continente. Essa herança é um legado controverso dos tempos de imperialismo europeu.
Agora, o Brasil está prestes a encerrar uma história semelhante. De acordo com as autoridades brasileiras, mais de 600 objetos indígenas estão há mais de 15 anos na França, de forma irregular.
Essas peças, muitas delas raras e únicas, serão finalmente devolvidas ao Brasil após terem sido mantidas no Museu de História Natural de Lille. O conjunto foi inicialmente emprestado pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), mas deveria ter sido devolvido em 2009, conforme acordado pelo lado brasileiro.
Essa demora deu início a uma disputa que se prolongou por mais de uma década. A batalha só foi vencida graças à persistência dos especialistas do Museu do Índio (Povos Indígenas), além da intervenção do Ministério Público Federal (MPF) e do Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty).
Entre os itens devolvidos, destacam-se relíquias como troncos de madeira utilizados pelos Kamaiurá, do Xingu, durante o ritual Kuarup, que marca a despedida dos mortos. Também estão incluídos na coleção cobiçada pelos franceses leques, adornos de cabeça usados pelos Karajá durante a “Festa da Casa Grande”, que simboliza a transição da infância para a vida adulta. Outro item de destaque é a Máscara Cara-Grande dos Tapirapé, usada no ritual mais tradicional desse povo.