Colegas! O Sinpro Campinas e Região repudia veementemente a homenagem ao ex-presidente Jair Bolsonaro pela Câmara Municipal de Campinas, prevista para hoje, 6 de março, e proposta pelo vereador bolsonarista Major Jaime. Se aprovada a homenagem, Bolsonaro receberá o título de cidadão campineiro honorário.
Consideramos essa atitude um escárnio para com a democracia. Escárnio que casa de maneira vergonhosa com outras “homenagens” já realizadas pelo citado ex-presidente, que não teve pruridos em celebrar ditadores, milicianos, torturadores e sádicos em seus arrazoados Brasil afora.
É escandaloso que se permita um título desses a um personagem cujo currículo é desabonador a tal ponto que semelha peça de (má) ficção!
Bem, mas que havemos de tal personagem que justifique nossa mão pesada neste texto?
Uma carreira militar interrompida por um plano terrorista contra seu próprio QG, evidenciando o mau caráter do então capitão Bolsonaro, que, sob a estrita ótica das instituições castrenses, já seria considerado indigno da farda e ainda mais das divisas ali costuradas, além de infringir o Código Penal Militar, Título II, Art.33-I, que trata de crimes cometidos por militares.
Pois bem: e o que ocorre com o capitão? Sai da instituição com a patente de capitão (pasmem) e joga-se na política, operando décadas de medíocre atuação, envolvimentos obscuros com atores nada recomendáveis (a exemplo das milícias cariocas), corrupção no porão do baixo clero e recebendo o desprezo até mesmo dos corruptos de “maior gabarito” da Casa.
Em suma, uma figura folclórica (nenhum elogio aqui), absolutamente inútil para qualquer assunto sério tratado pelo Legislativo, a brincar (e a lucrar) de maneira desarrazoada e perniciosa com dinheiro público, tão escondida em sua toca que os maus-feitos foram ignorados, e cuja voz só aparecia para declarar chocantes sandices e fazer apologia ao crime (“Sou a favor da tortura”) antes de retornar aos cantos escuros de costume.
Então, para surpresa de muitos, tal personagem cresce, cavalgando às costas do Golpe de 2016 e da cada vez mais forte ascensão da extrema-direita no mundo, e sobe a rampa do Planalto em 2019; é então que as luzes se vão acendendo sobre o homem e seu círculo, num verdadeiro show de horrores e de incompetência, passando pela implosão da diplomacia brasileira no mundo, que jogou o país para o escanteio do jogo global, tal a imperícia dos “diplomatas” de Bolsonaro; a economia claudica, a cultura é atacada, perseguições a professores progressistas se tornam comuns, a pseudociência ganha status de verdade, a estupidez é glorificada; o tom fascista sobe e a tragédia não se fez esperar – 700.000 mortos durante a pandemia da Covid-19, boa parte desse número devido à recusa da vacina pelo governo bolsonarista.
Que vem em seguida? Tentativas de golpe de estado, o 8 de janeiro de 2023, suspeitas de uso de agências de inteligência governamentais para espionar adversários reais ou presumidos, o caso das joias, a “minuta do golpe” etc. Pesado e gigantesco cesto de malfeitos, crimes e mau caratismo!
É tal pessoa que se pretende homenagear em ato oficial? Pode ficar calado qualquer cidadão da cidade que preze pela democracia e por um mínimo de ética na coisa pública?
Reiteramos nosso absoluto NÃO, fazendo coro com muitas outras vozes na cidade, a essa cerimônia, na qual se travestirá de herói alguém que de heroico nada teve, nada tem e nada terá.
Ao ex-presidente, hoje inelegível, as penas da Lei, e não medalhas!
Alexsandro Sgobin é professor e diretor de educação do Sinpro Campinas e Região