A Longa Noite
Aos mortos e perseguidos
aos que sofreram da tortura o açoite
àqueles nas celas esquecidos
na tenebrosa e longa Noite!
Sob a música funesta dos tambores
avançam os cavalos de guerra
naquele 31 de março sem cores
amanhecer cinza: pálida ficou a terra.
Aos combatentes, delirantes de liberdade!
Sob a sombra da covarde tirania,
nos campos, vilas e cidades
ergueram-se presto: sem demora, Democracia!
A farda manchada de sangue
desfila o opróbio do Rosto fascista;
mas, eis! Do país, já exangue,
a Praça se enche da revolta ativista.
A plúmbea Noite foi iluminada
jardins de resistência crescem, da Vida, herdade
a cabeça vil ditatorial, esmagada
o alvorecer, voz trovejante, canta: Liberdade!
Venenosos rios ainda correm,
do nefasto 1964, feridas feias a verter;
assim, de têmpera aguerrida, vigilante,
bradamos: Nunca olvidar! Jamais esquecer!
Àquelas e aqueles que foram vítimas da ditadura, aos mortos e desaparecidos, perseguidos e censurados, presos, subjugados, dedicamos esses mui humildes versos. E retumbamos sem descanso as palavras de Ulysses Guimarães: da ditadura temos ódio, e nojo. Aqui estivemos, aqui estamos e aqui estaremos sempre que a sombra da tirania e do fascio se fizerem presentes, desassombrados da própria morte em defesa da Democracia e da Liberdade.
Alexsandro Sgobin é professor e diretor do Sinpro Campinas e Região