Depois da consagração no Festival de Cannes – onde foi aplaudido por cinco minutos –, o documentário Lula, de Oliver Stone e Rob Wilson, deve viajar o mundo e chegar ao Brasil no segundo semestre. Os produtores ainda não bateram o martelo sobre a data de estreia dos cinemas nacionais, mas devem anunciar em breve as primeiras exibições do filme no País.
A prioridade é promover a cinebiografia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em mostras e festivais. Com essa estratégia, o longa certamente estará na programação do 26º Festival do Rio (que será realizado de 3 a 13 de outubro) e da 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (de 17 a 30 de outubro).
A seguir esse calendário, é provável que Lula chegue ao circuito comercial apenas em novembro, logo após as eleições municipais de 2024. A semana exata da estreia será definida pelo escritório Pedro Fida e Associados, que responde pelos direitos de distribuição do filme.
Além disso, a diretiva é aproveitar a reputação internacional do presidente brasileiro para lançar o documentário no maior número possível de países. O passo seguinte é agendar o lançamento do documentário no streaming.
Na estreia mundial em Cannes, no domingo (19), a sala Agnès Varda, no Palais des Festivals, teve lotação máxima. Lula foi exibido na mostra de “Sessões Especiais”, fora de competição.
“Este filme é sobre uma pessoa muito especial no mundo de hoje, um líder único neste Planeta”, afirmou Oliver Stone à imprensa. Segundo ele, o protagonista de seu documentário é “um dos poucos líderes políticos que vieram da classe operária, alguém que lutou muito para estar onde está”.
Embora retrate Lula desde sua ascensão como sindicalista, na década de 1970, até sua volta à Presidência da República, o longa tem como foco os anos em que o petista foi alvo da criminosa perseguição da Lava Jato. Com depoimentos de Cristiano Zanin, ex-advogado de Lula, e Walter Delgatti Neto, hacker que desmoralizou a operação, Stone revela especialmente os métodos ilegais praticados por Sergio Moro, o juiz à frente da operação.
O filme tampouco poupa o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), maior beneficiário da prisão e da inelegibilidade de Lula – ambas posteriormente revertidas. Declarações polêmicas e conhecidas do ex-capitão são recuperadas. Uma vez eleito presidente, Bolsonaro nomeia justamente Moro como seu ministro da Justiça e da Segurança Pública.
Em Lula, Stone dá menos ênfase aos (breves) depoimentos do presidente brasileiro e valoriza mais gravações que evidenciam sua via-crúcis. Lula passou 580 dias preso sob a acusação de crimes que não cometeu e que, portanto, não foram provados. Uma série de reportagens do site The Intercept Brasil, lideradas pelo jornalista Glenn Greenwald (outro entrevistado importante no filme), desnudou a parcialidade da Lava Jato. Em 2021, o STF (Supremo Tribunal Federal) declarou a suspeição de Moro e anulou as ações penais contra Lula no âmbito da operação.
A essa série jornalística, batizada de Vaza Jato, o documentário agrega indícios da ingerência do Departamento de Justiça norte-americano. Stone reforça, de modo contundente, que Lula foi preso para não poder disputar as eleições presidenciais de 2018, nas quais era favorito. Sua condenação foi um golpe dentro do golpe, retardando por quatro anos a volta da esquerda ao poder.
Thierry Frémaux, delegado-geral do Festival de Cannes, apontou uma motivação extra para vermos esse grande filme: “No cinema de Oliver Stone, filmar e usar uma câmera são armas e uma forma de visitar e reescrever a história contemporânea”. Já Rob Wilson, o co-diretor do documentário, acrescentou: “Espero que, com esse filme, vocês vejam Lula como um ser humano – e vejam que, para todas as democracias do mundo, é possível ter um líder como Lula, eleito para governar para o povo”.
Fonte: Vermelho