Quantas vezes a colega/o colega já se encontrou assoberbado por tarefas, tanto dentro da sala de aula? É um verdadeiro acontecimento que possamos encontrar algum tempo para dedicar ao lazer, a família, ao aperfeiçoamento pessoal e ao cuidado de si, lembrando que em significativa parte desse precioso (e raro) tempo estaremos adoentados, pois essa é a realidade de nossa profissão. Se tivermos sorte, vez ou outra teremos um fim de semana livre, sem provas a corrigir, relatórios, notas a apor, aulas a montar, correções.

Na verdade, ninguém escolhe ser professora/professor por julgar que a profissão é confortável, é óbvio, mas surgem “novidades” que conseguem tornar o cotidiano dos mestres ainda mais insalubres, quando não desumanos: dizemos dos sistemas de ensino e da burocracia que invadem as escolas, com o discurso de “facilitar” a vida dos docentes e tornar mais “fluida” nossa atuação.

Vemos dois problemas, ao menos, nisso: primeiro em relação aos sistemas de ensino, pacotes prontos e perfeitamente montados, alguns chegando a oferecer avaliações já acabadas (logo os softwares aplicarão as notas, sem que o professor precise se “preocupar”!…), numa azeitada lógica de máquina, de ultra produção acelerada e sem falhas, afirmando ainda mais o sistema fordista do qual a escola ainda não conseguiu, nem quis, escapar.

Precisão capitalista! Onde o mestre nisso tudo? Torna-se mero reprodutor de programas, técnico de TV e laptops, a crítica e a criatividade são desnecessárias, as falhas (que fazem aprender), inconcebíveis. Em troca, receberemos pilhas de relatórios digitais a preencher, esquemas a decorar, material a assistir, cursos, treinamentos, oficinas, feedbacks a reportar…Ford ficaria encantado. Ou talvez horrorizado…

Em suma, troca-se o mestre pelo software, este obviamente o mais neutro possível, politicamente morto e enterrado, sem lugar para dúvidas nem questionamentos mais sensíveis, por mais que os palestrantes dos ditos sistemas de ensino se esfalfem até a exaustão garantindo que “em primeiro lugar, o professor”.

Cuidado, José, é cilada!

Atrelado a isso, mas muitíssimo mais antiga, está a burocracia, o eficiente sistema de controle impessoal, a sanha dos diários de classe, relatórios, preenchimentos de papéis ou de formulários digitais, e-mails fora de hora, recados (fora de hora) no WhatsApp, pilhas homéricas de papel.

Se picássemos a papelada de dois anos, encheríamos colchões para nos deitarmos e sofrer um tanto mais…

Onde o tempo de refletir sobre as aulas? Conversar com alunas e alunos? Trocar impressões com os colegas?

A escola burocratizada ou engolida por sistemas de ensino tende a se tornar escola-morta, fábrica fordista deprimente, local amargo, sem cor e sem sangue nas veias, anti-escola…

Nada temos contra sistemas de ensino desde que respeitem a autonomia do mestre, mas em não havendo esse respeito, tudo temos contra; não imaginamos um mundo sem burocracia (que inocência!), mas a repudiamos sem recuos quando ela enrijece a escola, controla qual ditadura semiescondida o cotidiano, adoece e elimina carreiras ao sabor da caneta do burocrata, confortavelmente instalado em sua bela sala.

Não há tergiversações: nós, mestras e mestres, somos os profissionais nos locais de ensino! A cada tentativa de nos substituir, levantemos imediatamente, punhos cerrados, a exigir o respeito por nós, nossos estudantes e nosso local de trabalho!

Sem recuos! Sem retrocessos!

Alexsandro Sgobin é professopr e diretor de educação do Sinpro Campinas e Região

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