No pós-pandemia, os casos de doenças mentais em alunos e alunas teve um aumento assustador, como bem sabem os colegas; crianças e jovens sofrendo de ansiedade, síndrome (ou transtorno) do pânico e mesmo depressão exigem a atenção firme dos responsáveis e de nós mesmos, refletindo, sem dúvidas, o adoecimento mental de parte significativa da sociedade – e não apenas por conta da pandemia – mas isto é assunto para outros momentos.
Ainda que levemos em conta a maior facilidade de diagnóstico atual de doenças mentais, tal não é suficiente para explicar o aumento de casos em crianças e jovens, e não nos furtemos a dizer sobre dois pontos: a instituição escolar e universitária como possível produtora de estresse, e a situação de nós, professores e professoras, frente ao fardo de alunos adoecidos.
Em primeiro citemos o fato de que pouquíssimos de nós estavam preparados para o advento de uma pandemia e suas consequências trágicas, e obviamente nisso contamos as instituições de ensino, as quais muitas se prepararam adequadamente para as medidas profiláticas, mas também provaram o amargor de uma situação de incerteza, medo, tensão e morte, tudo isso muito piorado pela incompetência criminosa de um governo negacionista. Como receber alunos e alunas, do infantil ao ensino superior, na volta aos trabalhos em salas de aula? Como proceder para a readaptação ao presencial? Como nos readaptarmos a fim de auxiliar quem está sob nossa responsabilidade várias horas por dia?
Some-se a isso a conhecida ambiência das escolas em geral, pouco acolhedoras com suas regras e normas, punições e pressões, e a carga exigida nas Universidades, e teremos terreno fértil para que aqui e ali surjam os casos de adoecimento mental em estudantes; e, vale dizer, que aqueles que negam ou minimizam levianamente esse quadro se inscrevem na ala dos ignaros e dos medíocres, formando ao lado dos que produziram desastres durante a passagem da Covid-19.
Em segundo lugar, vem as nossas responsabilidades frente aos estudantes adoecidos, pois que abandonar à própria sorte esses estudantes não é próprio de mestres e mestras sérios, ao mesmo passo que a maioria de nós não têm preparo para lidar com casos mais graves . O fardo não é novo, mas cresceu, e ela pesa.
Que fazer? Reforçar nas próximas campanhas salariais a presença de psicólogos nas escolas e Universidades particulares, terreno do Sinpro-Campinas e Região, é uma política desejável, mas que certamente irá de encontro aos discursos de “gastos excessivos” do patronato.
Auxiliar os estudantes ao mesmo tempo em que enfrentamos nossos próprios problemas, já que o número de professores e professoras adoecidos é alarmante, exigirá esforços gigantescos, e a que preço?
Confessamos ao leitor/a leitora que não temos respostas, mas apenas sugestões, navegando nos mares turbulentos que estamos junto com os colegas, e a questão que trouxemos é complexa demais para um mero texto. Sem dizer que pode demandar anos e mais anos para ser seriamente enfrentada por políticas públicas, e mesmo para apurar com análises mais finas os seus desdobramentos. Tão somente apresentamos um fato, uma responsabilidade a mais em nosso mister já carregado até a exaustão, e da qual nos parece desumano abrir mão, ainda que seja apenas para ouvir aqueles estudantes que sofrem de doenças mentais, que mostram/relatam alguma dificuldade desse jaez.
De fato, a trilha é e será árdua; mas não a recusaremos, como nunca recusamos as dificuldades. Por isso mesmo é que lutamos por nossos direitos e nosso reconhecimento, sem pausa; por isso nós, dirigentes e sindicalizados do Sinpro-Campinas e Região não desistimos de lutar, pois nossas batalhas merecem o que lhes é devido.
Aqui estamos!
Alexsandro Sgobin é professor e diretor de Educação do Sinpro Campinas e Região (Foto: Marcos Santos/USP Imagens)
[1] E, se o quiséssemos, provavelmente teríamos de buscar o preparo nós mesmos, arcando com os custos. Duvida-se disso?