Exatamente um ano atrás escrevi um texto referente ao Dia Internacional das Mulheres, munido de dados que infelizmente mostravam um país no qual a violência contra mulheres, o feminicídio, o assédio de todos os tipos, as perseguições a mulheres que se destacam nas lutas políticas e sociais, a misoginia retumbante nas redes sociais, todas essas misérias enfim, seguiam sem pausas na violenta terra onde lutam Maria da Penha e inúmeras outras mulheres. Pesquisa do Instituto Sou da Paz mostra um aumento de 23% nos ataques a armas de fogo contra mulheres em 2023 em comparação com 2022, para citar um exemplo de violência sofrida por elas – e vale lembrar que os mesmos dados dizem que, das vítimas 3 em cada 10 já tinham registro de alguma agressão sofrida.

As batalhas incessantes e duríssimas, historicamente travadas diariamente por militantes, mulheres públicas progressistas, trabalhadoras, ativistas na denúncia dessa situação é responsável por conquistas célebres, mas que também diariamente são questionadas (e isso quando não se tenta efetivamente destruir essas conquistas sem sequer ruborizar) por setores retrógrados, fascistas e patriarcais da sociedade, chegando muitos a livre apologia ao crime nas redes sociais ou a viva voz.

E não se tenha dúvida de que estes setores e seus representantes raramente sofrem a justa condenação mesmo quando ferem a lei, destilando os laivos do machismo estrutural ou o ódio covarde que persegue desde sempre qualquer mulher no Brasil, por ela ser mulher.

E, obviamente (terrível que seja obviamente!), nas sombras milhões de mulheres sofrem essas violências; citemos por exemplo o caso de professoras nas escolas, cursos e Universidades, o público com que o sindicato tem seu contato maior: raramente se encontrará a professora ou a funcionária que não tenha sofrido algum tipo de assédio ou não tenha testemunhado/ouvido dizer de colegas que o sofreram. Para não dizer das conhecidas cargas duplas e triplas de trabalho de docentes mulheres, este que lhes escreve testemunhou repetidas vezes nos ambientes de ensino por onde lecionou (dos Fundamentais II a Universidade, passando por cursos pré-vestibulares e afins, EJA´s, treinamentos específicos) a carga e a cobrança significativamente maior que elas recebem, em comparação com docentes do sexo masculino.

Não poucas vezes as exigências vão das roupas a necessidade imperiosa de não cometer erros, pois serão lembrados com vigor – maior vigor, provavelmente, do que seria aplicado no caso de um docente homem. Professoras são regularmente questionadas, e nem sempre com o devido respeito, por pais, gestores e mesmo por pessoas fora da comunidade de ensino/pesquisa, de maneira estrondosamente mais recorrente que os questionamentos que nós, homens, recebemos. Não precisamos de pesquisas para aferir essa vil distorção cotidiana – somos testemunhas oculares dela.

Atrás das justíssimas homenagens do Dia Internacional das Mulheres (e afirmando que nem todas as homenagens do mundo, por séculos que fossem, reparariam as injustiças e os crimes cometidos contra a mulher, simplesmente por ela ser mulher), resiste uma parte de Brasil deplorável no trato ao ser mulher, um Brasil primitivo, brutal e calhorda: assumir isso sem meias palavras é o mínimo que se exige de quem quer que seja atento, e principalmente, tenha o direito de ser chamado de digno.

Alexsandro Sgobin é professor e diretor de Educação do Sinpro Campinas e Região

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