
Em assembleia realizada em 24 de abril último, professoras e professores do ensino superior do Estado de São Paulo aprovaram estado de greve, por unanimidade. Quanto aos porquês dessa decisão, saibam todos que uma afronta de contornos vergonhosos vem sendo feita contra os docentes que ensinam no ensino superior das faculdades e universidades privadas: sem propostas minimamente decentes do patronato (leia-se grandes grupos “educacionais”) em relação a aumentos salariais, benefícios, direitos garantidos, e sob a ameaça de serem substituídos por I.A.’s, professoras e professores com anos e mais anos de preparação e experiência são tratados como peças descartáveis em um sistema em que o conhecimento vale (muito) menos que o lucro (e esse é gigantesco, não se duvide).
Acionistas, donos de redes de ensino e CEO’s comemoram felizes a engorda de suas contas bancárias, enquanto mestres sofrem no cotidiano nada simples das salas de aula para saber, nos dias que correm, que a recompensa por seu esforço é o desprezo, refletido na possível perda de direitos e no poder de compra, nas cargas de trabalho exaustivas, na falta de regulação do EAD, na possibilidade da demissão caso “ousem” exigir a viva voz o que lhes caberia de justo.
Colega do ensino superior: em qual situação você se encontra enquanto os articuladores desses ataques se refestelam, haurindo lucros fenomenais e tramando acordos políticos “interessantes”, nos quais você é o elemento menos importante? Ora, permita-nos imaginar: enquanto isso, estará você em uma sala de aula, trabalhando até a exaustão; preparando materiais fora do horário de aulas; pesquisando e construindo aulas; construindo relatórios; participando de reuniões a não acabarem mais; corrigindo provas, trabalhos, orientando estudantes, fazendo parte de comissões, buscando materiais extras para seu mister, e é bom que tudo isso seja realizado em tempo hábil, sem reclamações (cuide-se da demissão!), e melhor será que a saúde esteja próxima da perfeição – nada de ansiedade, burnout, depressão, LER, dores, atenção!, colega: para o patronato, isso não justifica sequer uma assinatura não realizada no tempo exato. E ao mesmo tempo não descure da vida pessoal, de sua casa, família, filhos, e, caso tenha tempo, divirta-se, uma vez que o lazer é necessário para a boa saúde mental, logo, para o bom funcionamento da engrenagem que é você, que somos nós, professores e professoras, na máquina de dividendos mantida pelo patrão.
Assim pensam os donos dos grupos educacionais que vão tomando conta do ensino superior privado no país; há alguma dúvida quanto a isso?
Quanto esforço você dedicou, quantas horas subtraídas ao descanso em seus estudos você teve, colega, para chegar a docência no ensino superior? Quanto suor você dedica hoje para manter seu emprego? E com quais sentimentos você arca sabendo que sua dignidade sequer é aventada pelo patronato, ávido de que seu labor seja logo trocado por algoritmos e máquinas? Parece justo, parece humano que a carga que você carregou e carrega para cumprir com sua missão no trabalho seja desprezada, reduzida a importância de cifrões num gráfico? Você, que forma profissionais, tem a própria profissão diminuída – como?! Que falta agora? Pelo andar da situação nos últimos tempos, e a depender dos donos da máquina, num futuro próximo as placas de identificação na porta dos departamentos não terão nomes de docentes, mas do “professor” ChatGPT 1, 2, 3…n.
Simplesmente porque isso é maior garantia de economia, de menos preocupações com docentes indignados, de ações valorizadas nas Bolsas, e incremento de impérios cujo ganho trimestral pode ultrapassar em muito nossos salários somados.
O Sinpro não acha justo, nem humano, que isso esteja a acontecer, e julga justíssimo se levantar sem pejo e com todas as forças contra desplantes e ataques como os que vem você sofrendo.
O que você acha justo para si mesmo, colega?…
Alexsandro Sgobin é professor e diretor do Sinpro Campinas e Região