A história do Brasil é marcada por lutas que se refletem nas cores de nossa bandeira. Nos anos 1990, o movimento dos Caras Pintadas, protagonizado pela juventude brasileira, tomou as ruas com os rostos pintados de verde e amarelo, transformando essas cores em um símbolo de resistência contra a corrupção e as políticas neoliberais do governo Collor. Era um patriotismo crítico, que não se limitava a celebrar o país, mas o desafiava a ser melhor.

Três décadas depois, enfrentamos uma disputa ideológica que se caracteriza pelas cores de nossa bandeira, fortalecendo uma grande divisão na sociedade e nos trazendo questionamentos norteadores: Quem carrega a bandeira do Brasil é realmente patriota? Será que todos que vestem o manto verde e amarelo defendem o Brasil soberano pelo qual tanto lutamos diariamente para conquistar?

O verde e amarelo, que um dia representou a luta por um Brasil mais justo, hoje é disputado por visões antagônicas de nação. De um lado, um nacionalismo superficial, reduzido a slogans e bandeiras tremuladas em defesa de um projeto que entrega nossas riquezas, precariza o trabalho e ameaça a democracia. De outro, um patriotismo insurgente, que resgata o sentido original da bandeira: um chamado à soberania popular, à defesa dos direitos sociais e à construção de um país verdadeiramente independente.

Com a guerra comercial de Trump contra o Brasil, muitos debates foram levantados nas redes e ruas. O momento foi propício para que a extrema direita brasileira tomasse protagonismo em defesa de um Brasil submetido ao imperialismo. Do outro lado, ascendeu a bandeira de quem veste a democracia e o país soberano. Mas a disputa é somente sobre as cores? Será que Trump se importa tanto com a “liberdade” de Bolsonaro? Muitas narrativas foram construídas sobre a ideia de que Trump estaria defendendo Bolsonaro, mas isso, para quem pensa que manda no mundo, é cômodo e apenas uma cortina de fumaça para o que está por trás. Quais são os reais motivos do ataque comercial dos EUA ao nosso país?

Quando Trump atacou o Brasil em guerras comerciais, não foi por acaso. O agronegócio brasileiro, nossa capacidade energética (do pré-sal ao potencial verde) e nosso papel nos BRICS representam uma ameaça aos interesses imperialistas. A China, que sofreu sanções por avançar em 5G e inteligência artificial, mostra o que acontece quando um país do Sul Global ousa competir em tecnologia. E o Brasil?

O Brasil, com sua vasta biodiversidade, recursos naturais e potencial energético, sempre foi cobiçado por potências estrangeiras. Nosso agronegócio competitivo, nossa capacidade em energia renovável (do pré-sal ao potencial verde) e nossa posição estratégica nos BRICS representam tanto uma oportunidade quanto um risco para a ordem econômica global dominante.

A Embraer, por exemplo, foi alvo de pressões quando se tornou competitiva no setor aeroespacial. Nossa pesquisa em biocombustíveis e energia renovável poderia colocar o Brasil na vanguarda da transição energética, mas esbarra em interesses de grandes corporações internacionais. Até a soberania sobre a Amazônia é constantemente questionada por aqueles que, sob o discurso ambiental, escondem a cobiça por nossa biodiversidade e recursos hídricos.

O Brasil carrega grandes construções que ameaçam a economia global dominante, como exemplo o SUS. Enquanto muitos países mantêm sistemas de saúde privatizados e excludentes, o Brasil construiu o SUS – o maior sistema público de saúde do mundo, referência internacional no tratamento universal e gratuito. Defender o SUS é defender um projeto de Brasil que coloca a vida acima do lucro. É soberania sanitária em um mundo onde pandemias e crises climáticas são cada vez mais frequentes.

Celebrando o que torna o Brasil um país diverso e soberano, encontramos em nossa cultura um grande celeiro de resistência, como é o caso do hip-hop e do cinema nacional. A verdadeira essência brasileira não está nos slogans vazios como “Deus, pátria e família”, mas vive na cultura que emerge das periferias. O hip-hop nacional, que denuncia a violência policial e exige direitos, mostra mais patriotismo do que qualquer discurso de ódio. O cinema brasileiro, que revela nossas contradições (de “Central do Brasil” a “Ainda Estamos Aqui”), constrói uma narrativa crítica sobre nosso país, resgatando memória, história e resistência.

Enquanto alguns se auto intitulam “patriotas” e enchem as redes sociais de bandeiras, apoiam políticas que:

Entregam nossas empresas públicas a grupos estrangeiros;
Cortam investimentos em educação e ciência, condenando o país ao atraso;
Apoiam agendas que beneficiam o agronegócio predatório, em detrimento da reforma agrária e da agricultura familiar.
Esse falso patriotismo não defende o Brasil – defende os privilégios de uma minoria.

Mas há outro verde e amarelo, que é construído pela juventude brasileira, por quem se encontra nas salas de aula desse país, dentro das escolas e universidades; o Brasil das comunidades indígenas, dos cientistas, de quem acredita em:

Um Brasil que domine tecnologia, não só exporte minério;
Um Brasil que proteja seu povo, não só o lucro das elites;
Um Brasil que não se curve a interesses estrangeiros, mantendo sua autonomia política e econômica;
Um Brasil com “S” de soberania.
De que lado estamos? Negar o cenário político atual é se ausentar de um processo que necessita da democracia de todos os brasileiros. Qual país defendemos? Qual país queremos? Vestir a bandeira não é gesto vazio: é escolher entre um Brasil colônia ou um Brasil potência. E a participação efetiva da população brasileira norteará que Brasil teremos num futuro breve: um Brasil forte e soberano ou um Brasil que bate continência a imperador?

Compreender a importância política de cada brasileiro hoje para a construção do nosso país nos leva ao chamado do plebiscito popular que está em construção e é uma ferramenta de mobilização direta da população, uma resposta democrática e combativa às estruturas de poder que historicamente oprimem o povo brasileiro. Ele surge como um contraponto ao sistema político-econômico dominante, questionando as bases do capitalismo neoliberal, o imperialismo financeiro e a concentração de poder nas mãos de uma elite que governa em benefício próprio, não do povo.

Este é o Brasil que devemos escolher. E essa escolha não se faz apenas com palavras, mas com ação organizada. O plebiscito popular que se constrói nas bases é nossa ferramenta histórica para:

Reduzir a jornada de trabalho sem redução salarial – enfrentando a lógica perversa da superexploração;
Acabar com a escala 6×1 – resgatando a dignidade da classe trabalhadora;
Taxar as grandes fortunas – isentando quem ganha até 5 mil reais e fazendo os ricos pagarem a conta que sempre fugiram.
Participar da construção do plebiscito é uma forma de vestir a camisa verde e amarela do lado de quem defende um Brasil forte e soberano, um jeito novo de ser Cara Pintada e mudar o Brasil do nosso tempo. É como hoje se manifesta o verdadeiro amor ao Brasil – não com bandeiras na janela, mas com as mãos na massa da transformação. A história nos julgará: de que lado estivemos quando foi preciso escolher entre um Brasil colônia e um Brasil soberano?

Roberta Pontes é estudante do ensino técnico em Desenvolvimento de Sistemas; tesoureira da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) e militante da União da Juventude Socialista (UJS).

Sindicato dos Professores - Campinas e Região

 Localização

Av. Profª Ana Maria Silvestre Adade, 100, Pq. Das Universidades
Campinas – SP | CEP 13.086-130 |

 Horário de atendimento
2ª a 6ª das 10hs às 16hs

 Telefone
(19) 3256-5022

 Email
sinprocampinas@sinprocampinas.org.br

"Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção." Paulo Freire

Todos os direitos reservados -
SINDICATO DOS PROFESSORES DE CAMPINAS E REGIÃO