
O massacre em Gaza segue se aprofundando. Desde a manhã de domingo (24), ataques das Forças de Defesa de Israel (IDF) deixaram quase 30 mortos civis. Os bombardeios se concentraram no noroeste da cidade de Gaza, mas também atingiram áreas centrais, próximas a Deir el-Balah, e o sul do território. Em Khan Yunis, mais uma vez um hospital foi alvo: o Nasser, onde pelo menos 20 pessoas foram assassinadas, entre elas cinco jornalistas que trabalhavam para veículos como Reuters, NBC, Al Jazeera e Associated Press. Com essas mortes, o número de profissionais da imprensa mortos desde o início da ofensiva israelense, em 7 de outubro, chega a 244, de acordo com autoridades palestinas. A matança de jornalistas faz parte da tentativa de silenciar testemunhas do genocídio em curso.
A violência indiscriminada atingiu ontem 34 pessoas, cerca de dez delas enquanto aguardavam por ajuda humanitária. A fome deliberadamente provocada pelas ações militares israelenses já ceifou a vida de pelo menos 289 palestinos. Crianças são as principais vítimas dessa política de asfixia, que transforma a comida em arma de guerra. Relatórios recentes da Integrated Food Security Phase Classification (IPC), apoiada pela ONU, classificaram a situação alimentar em Gaza como de “estado de fome”.
A diretora executiva do Programa Mundial de Alimentos, Cindy McCain, reforçou que a crise é “catastrófica” e que a desnutrição alcançou níveis “muito graves”. Ela ainda destacou que a atuação humanitária é constantemente dificultada pelos ataques israelenses. O cerco militar à cidade de Gaza, já em andamento há dias, mostra que o objetivo não é apenas derrotar um inimigo militar, mas sufocar uma população inteira.
Enquanto isso, o governo de Benjamin Netanyahu aposta em propaganda para tentar encobrir a tragédia. Dez influenciadores norte-americanos e israelenses foram levados a Gaza para gravar vídeos afirmando que “há comida em abundância” e que as denúncias de fome seriam falsas. As imagens, publicadas nas redes, foram feitas em centros administrados pela Gaza Humanitarian Foundation (GHF) e fazem parte de uma campanha coordenada pelo Ministério de Assuntos da Diáspora de Israel. O jornal Haaretz revelou que a operação tem como objetivo combater a “narrativa do Hamas” e restaurar a imagem de Israel no cenário internacional.
Mas a realidade contrasta brutalmente com essa encenação. A imprensa internacional vem sendo sistematicamente impedida de entrar em Gaza para registrar os fatos, enquanto jornalistas locais são mortos sob bombardeios. A anunciada ofensiva maciça de Israel, prevista para começar em setembro, com a mobilização de 60 mil reservistas, tende a ampliar ainda mais o genocídio em curso, num cenário de destruição, fome e silêncio forçado.
Foto: Bashar Taleb / AFP