Quando falamos em 11 de setembro, o imaginário global costuma nos levar de imediato ao ataque às Torres Gêmeas em Nova York, em 2001. Mas para a América Latina, e especialmente para o Chile, essa data marca outro acontecimento trágico: o golpe militar de 1973, que derrubou o presidente Salvador Allende e instaurou uma das ditaduras mais sangrentas do continente.

O Chile, nos anos 1960, vivia uma democracia sólida para os padrões da região, mas também carregava enormes desigualdades sociais. O governo de Eduardo Frei (1964–1970) havia ensaiado algumas reformas, como a “chilenização” do cobre, mas elas foram insuficientes para transformar a vida das camadas populares.

Nesse cenário de polarização, Salvador Allende, médico e militante socialista, conseguiu vencer as eleições de 1970 com a coalizão Unidade Popular. Sua vitória foi histórica: era a primeira vez que um marxista chegava ao poder pela via democrática no Ocidente.

Allende acreditava em uma experiência inédita, batizada de “Via Chilena ao Socialismo”: construir uma sociedade socialista sem recorrer à luta armada, mas respeitando as instituições e a democracia.

Seu governo iniciou profundas mudanças: nacionalizou o cobre, maior riqueza do país, então controlado por empresas norte-americanas; promoveu reforma agrária; ampliou o acesso à saúde e à educação. No início, essas medidas geraram entusiasmo, salários aumentaram e os trabalhadores sentiram que tinham conquistado espaço no cenário político.

Mas os ventos começaram a soprar contra. O preço internacional do cobre caiu, a inflação disparou e o desabastecimento cresceu. O Chile se tornou um país cada vez mais dividido: de um lado, sindicatos, estudantes e camponeses apoiando o governo; de outro, a elite econômica, setores da classe média e grande parte da imprensa alarmados com as reformas.

Nesse clima de instabilidade, os Estados Unidos entraram em cena. Temendo outro “Cuba” no continente, o governo de Richard Nixon e seu conselheiro Henry Kissinger investiram milhões de dólares em propaganda contra Allende, no financiamento de greves — como a dos caminhoneiros — e no apoio às forças opositoras. O objetivo era claro: tornar o país “ingovernável” e abrir caminho para a queda do presidente.

O Golpe
Na manhã de 11 de setembro de 1973, os militares liderados pelo general Augusto Pinochet cercaram o Palácio de La Moneda. Caças bombardearam o prédio presidencial, enquanto Salvador Allende fazia seu último discurso no rádio, reafirmando que não renunciaria ao mandato concedido pelo povo.

Horas depois, cercado e sem saída, Allende se suicidou. O general que até pouco tempo parecia leal à Constituição se revelava o líder do golpe.

O que veio a seguir foi um período de terror. Congressos e partidos foram dissolvidos, milhares de opositores presos, muitos deles torturados em centros de detenção como o Estádio Nacional. Estima-se que mais de 3 mil pessoas tenham sido mortas ou desaparecidas e outras dezenas de milhares obrigadas ao exílio.

A ditadura de Pinochet duraria até 1990, implantando um regime de repressão violenta e, ao mesmo tempo, servindo como laboratório de políticas econômicas neoliberais que deixariam marcas profundas na sociedade chilena.

A memória no Chile de hoje
Com o fim da ditadura, o Chile passou a lidar com o legado de violência e dor por meio de comissões da verdade, como o Informe Rettig (1991) e o Informe Valech (2004), que documentaram mortes, desaparecimentos e torturas.

A construção de espaços como o Museu da Memória e dos Direitos Humanos, inaugurado em 2010, ou a preservação de locais de repressão como o “Londres 38”, mostram o esforço do país em manter viva a lembrança das vítimas.

Mesmo assim, o debate sobre esse passado continua atual. Setores da extrema-direita ainda defendem o legado econômico da ditadura, enquanto governos progressistas, como o de Gabriel Boric, reforçam a importância da memória, da verdade e da justiça.

Cinquenta anos depois, o 11 de setembro segue sendo uma ferida aberta, mas também uma advertência: a democracia, por mais sólida que pareça, nunca está garantida.

Vítor Soares é Professor de História

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