O Brasil fez história no dia 12/09/2025 ao condenar pela primeira vez (e com abundância de provas) um ex-presidente da República e generais de alto escalão por tentativa de golpe de estado (entre outros crimes), trazendo generosa luz a uma democracia sob ataque desde 2016. Pode-se discutir indefinidamente a dosimetria das punições e certamente muita tinta correrá acerca do longo voto do senhor Fux, mas apenas uma incrível ingenuidade ou a cumplicidade mau-caráter de quem apoia os fatos deploráveis que resultaram nos processos poderia colocar em dúvida a justiça de se culpabilizar os envolvidos. De fato, onde estaríamos se os criminosos (e esse é o adjetivo certo a se utilizar) tivessem logrado suas intenções? Quantos de nós já estariam sendo perseguidos, presos ou coisa pior pelo simples fato de serem de outro espectro político ou defender pautas que a extrema-direita abomina? Quem, sendo minimamente honesto, não sente pesar a sombra de uma ditadura que apenas se desenha, disposta a cercear direitos, torturar, exilar, matar, fazer da força bruta lei, da estupidez virtude e do fundamentalismo religioso constituição?

Pois é disso que esperavam se ocupar os foras da lei condenados em 12/09, saudosos de 1964, filhotes diletos das doutrinas covardes do Duce e do Führer que inda deitam raízes podres no mundo todo, como sobejamente sabemos.

E qual serão os desdobramentos do histórico dia ao qual aludimos?

É difícil dizer. Algo que se espera é que as condenações sirvam de alerta a quantos se agitarem novamente em tentar jogar o Brasil na fossa das ditaduras; e seria sensato nos detivermos nessa esperança específica e sem arroubos de otimismo temerário, uma vez que as serpentes da extrema-direita se assanham como nunca depois dos fatos recentes já aludidos, rastejando com a “anistia” a sair das bocas retorcidas de ódio, celebrando as bravatas e sanções de Trump, ameaçando com o fogo e o Armagedom vomitados por líderes religiosos de caráter extremamente duvidoso (para sermos delicados), obrando planos e estratégias para se pôr no poder – enfim, a peste está longe de partir, eis aí.

Não se trata de pessimismo, mas de manter a atenção mais plena contra o inimigo, principalmente no que se refere a nós, educadores, principalmente aos educadores e educadoras progressistas, alvos preferenciais desses apologistas de Ustra e da violência como norma. Sabem da importância das escolas e anseiam por invadi-las. Se não é assim, então se nos expliquem por qual outro motivo anacronismos imbecis como as “escolas cívico-militares” tomam força, que fundamentalistas pugnam por criar “intervalos bíblicos” em um estado laico ou a “escola sem partido” foi tão ferrenhamente defendida?

E se o veneno extremista corre com tanta energia é porque parlamentares lamentavelmente eleitos por parcelas do povo fazem do sonho do golpe e da tirania ocupação principal. Sem possuir requisitos intelectuais mínimos que os recomendariam sequer para gerir a própria mesa de trabalho em um modestíssimo escritório, sem a menor ligação ou interesse com os interesses das classes trabalhadoras, vazios dos conhecimentos históricos e científicos mais básicos, faltos de uma ética humanista (aliás, a ética da qual se servem muitas vezes toca a “ética do Crime”…), preenchidos, ao que parece, apenas pela estultice, e finalmente faltos de uma utilidade real na sociedade, nada mais lhes resta senão utilizar o vasto tempo do qual dispõe (às custas do erário, convém lembrar) a maquinar tolices, nos casos menos ruins, e projetos bárbaros nos cenários piores, trazendo ainda mais problemas a um país que já os têm em número mais que suportável.

Exatos soavam nossos antepassados, que diriam ser o maior mal de semelhante gente desocupada a falta do peso de uma enxada a curar a ociosidade…

Mas, que não saiba isso a medo, nem nos encolhamos quando as serpentes revoluteiam! Pois há uma missão a qual não devemos nos furtar em prol da democracia, da liberdade, do conhecimento científico, do debate e da diversidade de ideias, de gêneros e de crenças, que é enterrar a sete palmos vezes sete o germe do extremismo. Devemos isso a nós, educadores e educadoras conscientes e coerentes, e aos que virão depois de nós: que respirem ar limpo e livre, nos quais a lembrança da extrema-direita brasileira e mundial realmente não passe disso, uma lembrança, ainda que deva ser sempre lembrada para não ser olvidada.

Mesmo que isso muito nos custe, para este que lhes escreve soaria como alto elogio se disserem de nós no futuro: “lutaram genuinamente pela liberdade, e enfim venceram!”.

E assim seja.

Alexsandro Sgobin é professor e diretor do Sinpro Campinas e Região

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