
No Sindicato dos Professores de Campinas e Região (Sinpro), a defesa da educação vai além das salas de aula — ela também se faz em páginas, histórias e conversas. É assim que funciona o Clube de Leitura do Sinpro Campinas, uma das atividades culturais oferecidas pelo Sindicato e recentemente reconhecida como parte do Ponto de Cultura do Sinpro, junto com o Coral, as aulas de teatro e as oficinas de danças circulares.
O reconhecimento integra o novo ciclo da Rede de Pontos de Cultura de Campinas, iniciativa municipal que valoriza entidades que promovem a transformação social por meio da arte e da cultura. “Esse reconhecimento reforça nosso compromisso com a cultura como ferramenta de transformação social”, afirma Maria Clotilde Lemos Petta, diretora de Cultura do Sinpro. “O Sindicato não só defende os direitos dos professores, mas também fortalece a arte e a educação como pilares essenciais para a comunidade.”
E é exatamente esse espírito que orienta o Clube de Leitura, coordenado pela professora Marlene Arruda, que vê nos livros uma forma de ampliar o olhar sobre o mundo. “Não tive acesso a livros infantis, mas quando comecei o Ensino Fundamental, a palavra me encantou”, relembra. “É mágico combinar palavras que ganham sentido. Fui lendo e colecionando livros. Hoje defendo uma pedagogia através da ficção literária, onde a História, a Geopolítica, a Filosofia e todas as demais ciências podem estar presentes.”
A ideia de criar o clube surgiu de uma conversa entre Marlene e a própria Maria Clotilde, ainda no início da atual gestão. “A Tide (Maria Clotilde) dizia que a Cultura deveria estar mais ativa no Sindicato. Como eu já participava de outro clube, sugeri que organizássemos um no Sinpro e me coloquei à disposição para coordenar”, conta Marlene. A proposta foi imediatamente acolhida pela diretoria, e os encontros começaram a ganhar vida.
Um espaço de trocas e descobertas
Mais do que um grupo de leitura, o clube é um espaço de diálogo, onde professores e leitores de diferentes áreas se encontram para compartilhar percepções, ideias e emoções provocadas pelos livros. “Conversar com pessoas que têm o mesmo propósito é muito interessante”, diz Marlene. “Estimula uma leitura mais atenta, já que haverá exposição das ideias. Às vezes, achamos que compreendemos tudo, mas nas trocas descobrimos novos sentidos — e vamos aprendendo juntos.”
Os livros são escolhidos democraticamente, a partir de uma lista diversificada que inclui autores nacionais e estrangeiros, clássicos e lançamentos. “A lista e o cronograma de encontros são divulgados no fim do ano anterior. Cada participante tem cerca de dois meses para ler o livro do próximo encontro”, explica a coordenadora. O Sinpro disponibiliza exemplares físicos e, em alguns casos, versões digitais em PDF.
Entre as leituras que marcaram o grupo em 2025 estão A Vegetariana, de Han Kang, e A Elegância do Ouriço, de Muriel Barbery. “São narrativas densas, com conflitos bem desenvolvidos e personagens consistentes, que renderam ótimos debates”, destaca Marlene.
Leitura que inspira a docência
Além do prazer da leitura, o clube oferece aos professores uma oportunidade de renovar o olhar sobre sua prática. “O professor que lê acumula cultura e percebe como um conteúdo ficcional pode interessar seus alunos”, observa Marlene. Ela cita o exemplo do primeiro livro trabalhado pelo grupo, O Avesso da Pele, de Jeferson Tenório: “O protagonista é um professor desanimado, que decide propor aos alunos um julgamento baseado em Crime e Castigo, de Dostoiévski — e consegue cativar a turma. A literatura tem esse poder.”
Aberto a quem ama histórias
O Clube de Leitura do Sinpro é aberto a todos os interessados — professores sindicalizados ou não, estudantes, profissionais de outras áreas e amantes da leitura. “Já tivemos entre os participantes psicóloga, analista político, bibliotecária…”, conta Marlene. “Nosso grupo é diverso, e isso enriquece ainda mais as discussões.”
Com encontros marcados por trocas afetuosas e reflexões profundas, o clube segue construindo sua própria história — uma história coletiva, feita de livros, ideias e pessoas.
Como define Marlene Arruda, “nossa história está se construindo, página por página, conversa por conversa. E cada novo participante é uma nova voz nesse livro em movimento.”
Próximo encontro
Na próxima edição, o encontro será dedicado à obra Velhos são os outros, da magistrada e escritora Andréa Pachá, finalista do 61º Prêmio Jabuti na categoria Crônicas.
Com sensibilidade e olhar humano, Pachá transforma em literatura as histórias reais vividas em uma Vara de Sucessões, refletindo sobre envelhecimento, autonomia, memória e as emoções que acompanham o tempo.
A atividade acontecerá no dia 9 de outubro (quinta-feira) sob a coordenação da profa. Marlene Arruda. Das 14h às 16h, grupo fará a discussão das histórias do livro em um encontro marcado por leituras, trocas e reflexões. Local: Sede do Sinpro Campinas — Av. Profa. Ana Maria Silvestre Adade, 100. Inscrições gratuitas e informações: (19) 98841-2500.