
Entre memórias e demolições, nasce um filme. Amora, novo documentário da diretora Ana Petta, é uma ode à infância, à resistência e aos espaços que moldam nossa história. A obra terá sua estreia na Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, com sessões marcadas para os dias 16 de outubro, às 21h30, no Espaço Petrobras de Cinema, e 21 de outubro, às 15h, no Cinesesc, ambos na Rua Augusta, coração pulsante da capital paulista.
Ana é filha de Maria Clotilde Lemos Petta, atual diretora de Cultura do Sinpro Campinas e Região, e de Augusto Petta, ex-presidente da entidade — uma família cuja trajetória se entrelaça com lutas sociais, políticas e culturais. E é justamente de uma história pessoal e profundamente coletiva, que a diretora criou o embate entre memória e progresso que permeia o roteiro de Amora.
O narrador do filme é Pedro, filho de Ana com o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP). Com apenas quatro anos à época, ele conduz a narrativa com a delicadeza e a força de quem observa o mundo pela primeira vez. A história começa quando a vila onde moravam, repleta de árvores, vizinhos e brincadeiras, recebe a sentença comum a tantos espaços da cidade: será demolida para dar lugar a mais um prédio.
“Eu, Maria (minha outra filha) e Pedro fomos os últimos a sair da vila. Vivemos meses ali praticamente sozinhos. Decidi transformar essa experiência em filme como forma de resistência, mas também para que as crianças pudessem elaborar a despedida. As pequenas e grandes lutas ajudam a formar quem somos”, conta Ana.
Mais do que um registro íntimo, Amora é um manifesto poético sobre a importância dos lugares de memória — aqueles que, mesmo pequenos, carregam histórias inteiras. “Nossa elite viaja à Europa e se encanta com o cuidado e a preservação, mas aqui financia demolições. Não se constroem novos mundos sem memória, natureza e beleza”, diz a diretora.
Sinopse — Pedro, um menino de 4 anos, vive com a mãe e a irmã em uma vila no centro de São Paulo. Cercado por árvores e amigos, ele descobre, de repente, que seu pequeno mundo será destruído para dar lugar a um empreendimento imobiliário. A narrativa acompanha o olhar atento do garoto, os vazios que se abrem com a partida dos vizinhos e a tentativa dos moradores de preservar a história daquele espaço.
Sobre a diretora — Ana Petta é formada em Artes Cênicas pela Universidade de São Paulo. Ao lado de Helena Petta, dirigiu o documentário Quando Falta o Ar, vencedor do prêmio de Melhor Documentário Brasileiro no É Tudo Verdade 2022, uma das obras mais potentes sobre a pandemia de covid-19 no país. Agora, em Amora, Ana vira a câmera para dentro — e nos lembra que cada vila demolida é também uma memória que luta para não desaparecer.