
Conforme levantado pela Sociedade Artística Brasileira (SABRA), algumas pessoas defendem que a função da escola deve ser estritamente pragmática, focando apenas nas disciplinas que preparam o aluno para o mercado de trabalho. Essa perspectiva, no entanto, promove um menosprezo por áreas como filosofia e artes. Contudo, a arte é um instrumento essencial de expressão que oferece um rico conteúdo para projetos interdisciplinares, permitindo ao aluno assimilar diversos conhecimentos de forma visual, experiencial, abstrata e concreta.
Ao não se desassociar de seu contexto, a arte nos ajuda a compreender a evolução da humanidade, revelando costumes, crenças e valores de diferentes épocas. Ela também nos permite entender a complexa dualidade entre razão e emoção, tão explorada por artistas renascentistas, por exemplo. Embora possa auxiliar em outras matérias, a arte se sustenta por si mesma como uma disciplina completa, capaz de oferecer uma revelação profunda sobre uma sociedade que, cada vez mais conectada às telas, perde a capacidade de se expressar e de conviver em harmonia, e se fecha no individualismo. A partir da perspectiva do ensino da arte, que abrange quatro linguagens principais (dança, teatro, artes visuais e música), abordamos uma variedade de assuntos de forma acessível, priorizando a experimentação. A prática, enquanto produção de conhecimento, carrega conceitos que evidenciam que, sem o engajamento do corpo no e com o espaço, como na dança e no teatro, e a expressão artística que partilha de uma visão de mundo, a compreensão dos conteúdos seria limitada. Dessa forma, o ambiente de aprendizagem propicia uma atmosfera emocional equilibrada, gerenciada cineticamente pelas crianças, que pode enriquecer a assimilação de outras disciplinas também. Conforme apontam estudiosos da área da arte educação, as atividades práticas estimulam a compreensão do que é ensinado, utilizando o prazer do brincar, por exemplo, como motor de aprendizagem.
A arte tem uma grande importância na humanidade e no ensinar a conviver. Por ser uma forma de comunicação que transcende barreiras de idioma e cultura, expressando ideias e emoções de maneira simbólica, ao observar uma obra de arte, somos convidados a interpretar sentimentos e a nos colocar no lugar do artista ou do retratado, o que fortalece a empatia.
A célebre frase de Ferreira Gullar, “a arte existe porque a vida não basta”, evidencia como sentimentos e ideias complexas encontram na expressão artística um canal para traduzir o que é difícil verbalizar. Ao externalizar o mundo interior, a arte ajuda a dar sentido à nossa realidade, e por isso sua relevância no ambiente escolar não deve ser subestimada. A escola, como instituição social, traz consigo as marcas culturais de seu tempo e, ao adotar um modelo educacional mecanicista, pautado na dualidade corpo-mente (PROBST e KRAEMER, 2012), ela negligencia o potencial transformador da arte. É fundamental que a escola resgate o papel central da arte, integrando-a plenamente ao processo formativo e socializador.
Gabriela Rosa é professora de Artes e professora de Dança.
Bibliografia:
SABRA – SOCIEDADE ARTÍSTICA BRASILEIRA. A importância do ensino das artes na escola. [2023]. Disponível em: https://www.sabra.org.br/site/arte-na-escola/. Acesso em: [17/10/2025].
PROBST, Melissa; KRAEMER, Celso. Sentado e quieto: o lugar do corpo na escola.
Atos de Pesquisa em Educação, v. 7, n. 2, p. 507-519, 2012.
ROSA, Gabriela da Silva. Site specific e o ensino de dança para crianças: uma proposição afetiva com o espaço escolar. Anais 27 o Seminário Nacional de Arte e Educação. Montenegro: Editora da FUNDARTE, p.01-09, 2021. Disponível em: http://seer.fundarte.rs.gov.br/index.php/Anaissem/issue/current em 30 de novembro de 2021.