O Brasil registrou, entre julho e setembro de 2025, a menor taxa de desocupação desde o início da série histórica do IBGE, em 2012. Segundo a PNAD Contínua, o índice foi de 5,6%, queda de 0,2 ponto percentual em relação ao segundo trimestre e de 0,8 frente a igual período de 2024. O número de empregados com carteira assinada chega a 39,2 milhões. Ainda assim, o desemprego se concentra entre os mais jovens e nas regiões mais pobres do país.
Entre os brasileiros de 18 a 24 anos, a desocupação chega a 12,3% e atinge 18% no Nordeste. Nas faixas mais velhas, o quadro é bem distinto: entre os trabalhadores com 40 a 59 anos, o índice é de 3,6%, e entre os com 60 anos ou mais, de 2,7%. O levantamento também mostra disparidades por gênero e raça — mulheres (6,9%) têm desemprego maior que homens (4,5%), e a taxa é mais alta entre pretos (6,9%) e pardos (6,3%) do que entre brancos (4,4%).
“É positivo, mas ainda distante do ideal”, avalia dirigente metalúrgico
Para Alex Santos Custódio, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Betim e região, o resultado é “bom e revela o resultado positivo dos programas do PAC e do NIB implementados pelo governo Lula”. Ele observa, contudo, que o indicador oficial “não abarca a informalidade e o subemprego”, o que ameniza o real tamanho do problema.
Custódio ainda alerta que a recuperação industrial “está muito aquém” dos níveis históricos: “A indústria chegou a representar 36% do PIB brasileiro, hoje mal passa de 10%”. Apesar disso, ele reconhece sinais de reação, em especial na cadeia automotiva, que projeta R$ 130 bilhões em investimentos até 2030, impulsionados, segundo o sindicalista, por programas como o PAC e o Mover, que foca na transição para veículos de baixa emissão (incluindo elétricos e híbridos).
Ele atribui a estagnação aos juros altos: “A taxa Selic em 15% desestimula novos investimentos produtivos. É contraditório querer crescer com crédito caro”, afirma.
Para ele, a juventude “precisa retomar o sentimento de participação, de pertencimento de classe” e se reconhecer na política como instrumento para mudanças reais. Além disso, destaca a importância do papel do movimento sindical: “Assumimos o sindicato no meio da pandemia, após a reforma trabalhista, e conseguimos dobrar o valor das PLRs (Participações nos Lucros e Resultados). Nosso desafio é resgatar o orgulho de ser metalúrgico e conter a uberização do trabalho.”
Comércio mantém contratações, mas enfrenta rejeição da juventude
O presidente da Federação dos Empregados no Comércio do RS (Secosul), Guiomar Vidor, também vê aspecto positivo na queda do desemprego, mas aponta que “o resultado decorre em boa medida da política de valorização do salário mínimo, que fortalece o poder de compra e movimenta o comércio. Com juros menores, o impacto seria ainda maior.”
Guiomar destaca, no entanto, a dificuldade para atrair jovens ao setor: “Eles não querem se submeter a relações precárias. O que se oferece hoje como primeiro emprego são contratos terceirizados, intermitentes e com baixos salários, além da escala 6×1, que praticamente elimina o tempo de vida.”
Ele defende mudanças estruturais: “A aprovação do PL 67/2025, de autoria da deputada Daiana Santos (PCdoB/RS), que institui jornada de cinco dias por dois de descanso, é central. O comércio precisa ser um ambiente de trabalho digno para que os jovens queiram permanecer nele”, afirma.
Uma fotografia desigual do mercado
Mesmo com o recorde histórico, a PNAD Contínua mostra que a qualidade do emprego no país continua desigual. O rendimento médio real ficou em R$ 3.507, praticamente estável, e a subutilização da força de trabalho ainda alcança 13,9% dos brasileiros.
Os números confirmam a percepção de que o país vive uma recuperação sustentada, mas ainda marcada por precariedade, disparidades regionais e pela frágil inserção da juventude. Para Custódio e Vidor, a reversão desse quadro depende de juros mais baixos, fortalecimento das negociações coletivas e de políticas que revalorizem o trabalho como horizonte de vida.
Do Portal Vermelho

