Para que não restem dúvidas: a palavra “férrea” do título não tem efeito decorativo, mas sim assume, aqui, efeito imperativo; a defesa da laicidade, princípio da separação entre igreja e Estado, urge no Brasil, e nisso não cabem recuos. Aqui e ali despontam notícias de livros religiosos sendo sugeridos ou francamente direcionados como “material didático”, ferindo a Constituição e abrindo perigosos precedentes, uma vez que bem sabemos a que péssimos caminhos nos levam o fanatismo religioso, o proselitismo e a mistura entre fé e política.

E não se deixe de dar nome aos bois: a onda de religiosidade proselitista vem da extrema-direita e de algumas denominações neopentecostais, cujas alianças políticas mútuas ficaram muito bem conhecidas durante a campanha e os tenebrosos anos do governo Jair Bolsonaro. Junto disso vêm os ataques recorrentes às religiões afro-brasileiras, e lamentavelmente não se trata na verdade de um “retrocesso” (haja vista que ataques dessa natureza sempre ocorreram no país), mas do aumento assustador de uma intolerância que sempre rondou o Brasil (lembremo-nos de que a fé evangélica também foi perseguida num passado não tão distante).

Ao fanatismo coligado com ideologias políticas extremista encantaria que a Ciência, base do conhecimento, fosse suprimida para dar lugar a fé, que a crítica fosse subjugada, e a escola se tornasse finalmente reprodutora de uma visão de mundo única, solapando a diferença e a liberdade de crença, ao arrepio da Constituição, sem dúvidas, Lei Maior a que os grupos extremistas recorrem apenas quando seus interesses específicos falam mais alto. Ora, a Ciência comete erros e isso é indiscutível, mas ao menos tem seus próprios mecanismos de correção e revisão, e nisso consiste sua riqueza e força na compreensão do mundo; já a fé se ancora no credere, na confiança em um conjunto de crenças, e é justo que seja assim, mas não nas escolas, atacando a democracia das ideias e a liberdade de pensamento crítico. Já ninguém aqui discute a importância do religare para a maioria das pessoas, nem o papel social que muitas denominações religiosas, de diferentes matizes, cumpre; o que se clama é a defesa da liberdade e do direito ao conhecimento científico, que deve ser universal, enquanto a fé religiosa é assunto pessoal, a ser comungado coletivamente se assim deseja o fiel, mas jamais às custas da laicidade reconhecida em lei no país.

A História nos fornece funestos exemplos em números demasiado grandes para que não estejamos em total alerta contra o fanatismo religioso, inda mais quando se irmana a movimentações políticas com interesses bem pouco santos, para sermos delicados.

Eis aí mais uma luta para quem preza pela diversidade e pela democracia; e de lutas estivemos bem fornidos nesses últimos anos, colegas!…

Alexsandro Sgobin é professor e diretor do Sinpro Campinas e Região

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