O Sindicato dos Professores de Campinas e Região (Sinpro Campinas) manifesta solidariedade ao professor e sociólogo Lejeune Mirhan, que na noite de ontem (3) teve seu carro cercado e chutado por bolsonaristas, que estão acampados diante da Escola de Cadetes de Campinas.

Mirhan voltava para casa por volta das 20h15 quando entrou por acaso em uma rua bloqueada ilegalmente por militantes de extrema direita. O professor pediu para que fosse liberada a sua passagem, alegando que morava próximo ao local e estava no carro com sua mulher e o neto de cinco anos. Além de não ter a passagem permitida, Mirhan foi alvo de insultos e ameaças. “Sabemos quem vocês são e onde moram”, disse um dos acampados (ver foto).

Desde o início de novembro, após a derrota do presidente Jair Bolsonaro no segundo turno das eleições presidenciais, atos que clamam por um novo golpe militar vêm sendo registrados em todo o país, muitos deles com registros de violência física e verbal contra cidadãos que se recusam a se integrar ao “movimento”. Em Campinas, o acampamento golpista, seguido do bloqueio de vias públicas, dura mais de 30 dias.

Como defensor intransigente da democracia, o Sinpro Campinas repudia a agressão sofrida pelo professor Lejeune Mirhan e exige que as autoridades responsáveis, a começar pela Prefeitura Municipal, tomem providências urgentes no sentido de desbloquear o trânsito na região e desmobilizar os militantes golpistas, cujos atos constituem crime previsto na Constituição Federal.

Confira a íntegra do relato feito por Lejeune Mirhan:

Cercado por fascistas próximo de minha casa

Como a maioria das pessoas sabem, os fascistas que perderam a eleição não se conformam com isso… bloqueiam ruas, praças e estradas desde a noite do dia 30 de outubro.

Passaram a se concentrar em frente às instalações militares em todo país na vã tentativa de apelar para as forças armadas “salvarem” a Nação (sic). E já faz 33 dias e nada ocorre. Não há autoridades que os removam dessas localidades. Eles fecham ruas ao seu bel prazer, como aqui perto de casa, que moramos próximo da Escola Preparatória de Cadetes do Exército, onde o inominável estudou.

Hoje, dia 3 de dezembro, sábado, saímos de casa por volta de 20h15. Os fascistas interditaram várias ruas. Tivemos que dar uma volta grande. Estava com minha esposa, uma amiga e meu netinho de cinco aninhos no carro.

Filmamos tudo. Chamaram minha esposa de vaca e vagabunda. Não nos permitiram passar pelo bloqueio. Exigiram que eu desse marcha à ré. Chutaram meu carro e esmurraram os vidros. Vejam pelo vídeo.

Enfrentei os 10 últimos anos da ditadura militar (1975-1985). Fui detido diversas vezes, tive duas repúblicas invadidas pela policiam além de casas vigiadas; sofri processos de expulsão em duas faculdades que estudei. Mas, confesso que nunca senti o medo que hoje senti pela primeira vez. Não por medo deles nos machucarem. Mas por medo de saber a que ponto chegamos em nosso país onde a democracia ainda corre risco e o tempo de 30 dias para a posse do presidente Lula parece uma eternidade.

Indagado quanto tempo isso ainda iria eles disseram que o ano de 2023 inteiro. Eles estão articulados, orquestrados, pesadamente financiados. Em torno de 30 barracas estão montadas, uma tenda imensa de boca livre está à disposição. E – o que é pior – disseram que as autoridades de trânsito da nossa cidade de Campinas – chamada EMDEC – está dando total apoio para a obstrução.

Fiquei impressionado com essa informação. Pedi para eles tirarem o cone para eu passar e eles disseram para eu chamar a EMDEC para tirar o cone. Em tom de desafio. Lamento que essas autoridades, submetidas ao secretário municipal de transportes, estejam dando total guarida para fascistas bloquearem tuas pode mais de um mês. E, mais do que isso, dois deles que nos ameaçaram e filmaram, usavam camisetas da PE – Polícia do Exército. Falavam com rádio comunicadores privativos das forças armadas.

Não tenho dúvidas que tem apoio de gente mais graúda do que o próprio prefeito completamente omisso da nossa cidade, pertencente ao Partido Republicano que apoiou Bolsonaro. O fascismo ronda nossas vidas. Eles disseram que sabem que nós somos e onde moramos. E virão atrás.

Incrível, depois de 37 anos do início da chamada Nova República, a democracia esteja ainda em risco. Que pairem ameaças às nossas vidas pelo simples fato que desafiamos fascistas e abrirem as ruas para meu direito de ir e vir em nossa cidade.

Fiquei impressionando ainda com a coragem de minha esposa, que filmou tudo e enfrentou a fascistada. Fez o “L” de Lula na cara deles. E os desafiou a baterem em todos nós.

Até onde chegaremos com tudo isso?

Em tempo: ao manobrar para retornar, vários fascistas chutaram meu carro e socaram o vidro

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