Olhar para uma árvore e não ver que tronco, galhos, folhas, frutos e raiz carregam seus próprios códigos exclusivos é ignorar que tudo é feito de história.

Existe uma lógica para ser o que se é. E somos o resultado do que foi feito e do que fazemos com isso.

Em nosso código existencial estão as raízes da nossa linhagem e contam sobre nosso passado, mas também dizem muito sobre nossa própria ignorância diante de quem somos.

Houve um tempo em que a Coroa valia mais que o Cocar. O falo branco do europeu estrangeiro violou os corpos das nativas para manter a ordem da sua violência na conquista do Poder. E assim o pai estuprador construiu a narrativa romantizada da nossa linhagem inicial.

Mas a verdade é que o brasileiro nasceu do estupro.

Apesar de sermos esse resultado, nossa consciência não admite que nossa linhagem seja tão perversa e nos faz abandonar a nossa mãe, sua carga histórica, religiosa e emotiva para escolher abraçar o pescoço do nosso pai violador e sua ordem colonial.

Os Yanonami são filhos da nossa mãe. São nossos irmãos, carregam essa mesma linhagem dolorosa que a Conquista gravou em nosso DNA. O que nos falta é a consciência de saber e aceitar quem somos.

É doloroso ver que nossos irmãos com linhagem ainda mais direta e próxima da nossa mãe, por cultura, representatividade, e consciência, ainda sejam vítimas do que a Conquista e a Coroa não conseguiram fazer no início do saque.

É doloroso ver que o massacre predatório foi política de um governo cruel, sanguinário, insensível, imoral e genocida que durante os últimos quatro anos deste século apoderou-se da violência contra uma parte constituinte da origem histórica do próprio povo brasileiro.

É doloroso ver que foi compromisso político o extermínio dos Yanonami, nossos “irmãos sub-humanos”.

Falhamos como nação. Falhamos com nossa identidade. Falhamos com a nossa história. Falhamos com nossa realidade, falhamos com as marcas da memória, falhamos com as letras que se escrevem para o futuro.

Falhamos com o que somos.

Nós somos Yanonami!

Artigo publicado originalmente em Notícias AL

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