Um “governo técnico”: este um dos primeiros ditos do governador Tarcísio de Freitas, e, dados os antecedentes “técnicos” do desastroso e infame governo Bolsonaro (do qual Tarcísio é declarado afeito), esses dois termos já nos causam preocupação. Deixemos, por ora, a já curiosa situação de um candidato vindo de outro Estado brasileiro ter disputado eleições para o Estado de São Paulo, dele pouco conhecendo, e nos concentremos nas ações que o referido Tarcísio já obrou, tornando nossas dúvidas, certezas (e não se trata aqui de nenhum elogio).
No que nos interessa mais de perto, o governador eleito imediatamente pôs-se a perseguir o professorado das escolas estaduais, determinando que diretores assistam aulas ao menos duas vezes por semana, enviando relatórios sobre o que viram para as diretorias de ensino. Trata-se de uma covarde e acintosa forma de vigilância e controle, que tolhe a autonomia do docente, semeia a desconfiança, acabrunha alunos, mestres e diretores e faz pouco caso, inclusive, da Constituição. Uma escola, uma Universidade, um espaço de aprendizagem é um universo, complexo, heterogêneo, com ramificações múltiplas sociais, culturais, políticas, territoriais, e justo é que sua própria comunidade seja instada a dar sua opinião, e, caso não o faça, que seja chamada a fazê-lo: a educação é dever social.
Mas Tarcísio, do alto de seu monumento ao autoritarismo, manda que hierarquias mais altas, e que raramente (ou nunca) adentram as salas de aula, tomem relatórios em mãos e decidam sobre o que mestres e mestras poderão ou não fazer, dizer ou sugerir em suas próprias salas de aula. Ou alguém teria dúvidas sobre essa ser a intenção final da vigilância do senhor governador? O Sinpro se posiciona de maneira cabal contra essa atitude beligerante e afrontosa, e não duvidem os colegas representados pelo nosso sindicato de que essa vigilância possa chegar, oficialmente, às escolas particulares.
Sigamos.
Em outra decisão nada coerente com a real situação das escolas públicas, Tarcísio manda deixar de lado o material didático físico e investir em pacotes digitais, não por coincidência interessantíssimos para o senhor Feder, secretário de Educação de Tarcísio e acionista da Multilaser, empresa que lucrou alegremente no governo Bolsonaro. Após intensa pressão, voltou-se atrás na decisão e os livros do MEC retornarão. O governador tinha alguma consciência de que as escolas públicas são carentes de muitas coisas referentes à infraestrutura, e material eletrônico de boa qualidade não é o que mais se encontra em suas salas de informática (quando as têm funcionais)? Ou o senhor Feder “resolveria” a questão lucrando alguns milhões a mais?
Terceiro absurdo que vai contra a Constituição na gestão Tarcísio/Feder: expulsão de alunos cujas faltas ultrapassem quinze dias corridos. Como! Haverá mais clara intenção de destruir as já poucas chances de alunas e alunos de escolas públicas vivendo dificuldades e situações de risco têm, problemas que nenhum dos dois citados tem o menor ensejo de resolver humanamente? Trata-se de uma perversidade que em nada deve às técnicas de segregação e esmagamento dos “indesejáveis”, já postas em ação inúmeras vezes sempre que regimes fascistas/autoritários/tirânicos ascendem ao poder.
Ominoso!
Por fim, digamos das operações policiais ensejadas por Tarcísio de Freitas, como a Operação Escudo, violenta a ponto de fazer moradores do Guarujá abandonarem suas casas e partirem. É uma política de extermínio, que em nada contribui (pelo contrário) para a segurança pública. Pretendem o governador e seu aliado Feder aplicar a mesma política à segurança já precária de nossas escolas?…
Colegas! Esse o governador que assumiu o poder em nosso Estado, esse o secretário de Educação! Haveria, por parte de quem é educador/educadora coerentes com sua missão de educar, possibilidade de apoiar semelhante ações? Seria aceitável fazer vistas grossas a quem nos desrespeita, persegue e enche ainda mais de pedras o caminho?
Jamais, dizemos nós, e nossa luta contra mais essas feridas saídas do fascio não terá tréguas.
Tarcísio, o Sinpro está aqui!
Alexsandro Sgobin é professor e diretor do Sinpro Campinas e Região