O relógio chegava próximo à meia noite. Ainda era 10 de setembro de 2001, e o Jornal da Globo abria com uma manchete que marcaria Campinas para sempre:
Toninho tinha sido morto em uma — até então — ação criminosa de bandidos em fuga. O cenário é a Avenida Mackenzie, que já existia como a ligação entre a Rodovia Dom Pedro e o Shopping Iguatemi. O carro do prefeito, um Fiat Palio simples, estava com marcas de balas e parou próximo a um outdoor. O tenente-coronel da PM em 2001, Osmar Sabbatini, considerava que a hipótese mais provável era que ele tinha sido abordado em um trecho antes da avenida, e depois os criminosos atiraram. O delegado Osmar Porcelli, na sequência, preferiu apenas falar que todas as hipóteses eram analisadas.
Na manhã seguinte, 11 de setembro, a discussão dos telejornais era sobre a morte de Toninho. O que teria acontecido? Quem matou?
Só que a notícia acabou eclipsada por outra, igualmente histórica: os ataques terroristas ao World Trade Center, nos Estados Unidos.
Em 2021, o assassinato de Toninho completou 20 anos – data em que o crime prescreveu. Até hoje, se alguém for apontado como autor da morte de Toninho, jamais será responsabilizado.
Para a família, o assassinato teve motivação política. Eles se baseiam na atuação de Toninho, não só na prefeitura, mas ao longo da trajetória de vida.
Antes de ser eleito, o petista moveu ações populares contra grandes empreiteiras, lutou pelo tombamento de prédios históricos em contraposição à especulação imobiliária, colaborou com a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Narcotráfico e denunciou supostas irregularidades no contrato do Veículo Leve sobre Trilhos, o malfadado VLT de Campinas.
Em 2001, o diretor do Partido dos Trabalhadores (PT), Vicentinho, já levantava essa possibilidade.
O Ministério Público, durante todos esses anos, indicava que os tiros que mataram Toninho partiram de Anderson José Bastos, o “Âncio”, um sequestrador que integrava a quadrilha de Wanderson Nilton de Paula Lima, o “Andinho”.
Âncio e outro comparsa foram mortos em Caraguatatuba, no litoral norte paulista, por policiais civis de Campinas menos de um mês após o crime contra o prefeito. O MP não descarta motivação política para o caso, mas afirma que até hoje não foi possível chegar a indícios que apontassem esta tese.
Em 16 de novembro do ano passado, o juiz José Henrique Rodrigues Torres, da Vara do Júri, confirmou o arquivamento do inquérito que apurava a morte do ex-prefeito de Campinas. No texto, ele reconheceu a omissão do estado brasileiro e a falta de estrutura da autoridade policial para fazer a investigação.
O magistrado apontou da seguinte maneira: “nenhuma linha de investigação mais robusta foi suscitada” e as hipóteses “não foram verificadas com profundidade”.
A família, que sempre acreditou que o crime não foi investigado corretamente, acabou por comemorar a decisão do juiz, como disse o advogado William Ceschi Filho, em entrevista ao Estúdio CBN em 17 de novembro de 2022.
Quando o crime completou 20 anos, a filha de Toninho, Marina Santos, falou ao CBN Campinas sobre o sentimento de tristeza que domina a família desde o dia 10 de setembro de 2001.
A falta de respostas do processo criminal fez com que a família de Toninho procurasse a Organização dos Estados Americanos (OEA) para pedir a punição do estado brasileiro por omissão nas investigações do assassinato do político. Com o arquivamento em mãos, a defesa espera ter base suficiente para obter a condenação. A resposta deveria sair até dezembro passado. O pedido ainda está lá, com status de agendamento “em análise”. Há uma expectativa do advogado de que essa parte do processo comece a andar daqui um, dois anos.