Professores e funcionários da rede estadual de educação do Paraná iniciaram, nesta segunda-feira (3), uma greve por tempo indeterminado contra o Programa Parceiro da Escola, proposto pelo governador Ratinho Jr. (PSD), que prevê a privatização de mais de 200 escolas estaduais.

A greve foi deflagrada após o envio do Projeto de Lei 345/2024 para votação em regime de urgência na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), sem diálogo prévio com a categoria por parte do governo e da Secretaria de Educação (Seed).

Na manhã desta ontem (3), caravanas de todas as regiões do estado, incluindo a capital e a região metropolitana, se reuniram na Praça Santos Andrade, no centro de Curitiba. Além dos educadores, o ato contou com a presença de estudantes, movimentos sociais e lideranças políticas. Por volta das 10h, os manifestantes marcharam em direção ao Centro Cívico.

A APP Sindicato estimou que cerca de 20 mil pessoas ocuparam mais de cinco quadras da Avenida Marechal Deodoro, gritando palavras de ordem em defesa da educação pública, criticando o projeto do governador e pedindo a suspensão da votação.

“Estamos com 100% das escolas paralisadas, seja parcialmente ou totalmente. Em Curitiba, o público nas ruas superou as expectativas, com a participação de professores da capital e do interior. Também tivemos 29 atos nas nossas regionais, organizando os professores que não conseguiram se deslocar até a capital”, afirmou Walkiria Mazeto, presidenta da APP Sindicato.

“O governo quer entregar as escolas públicas à iniciativa privada e repassar o dinheiro da educação para empresários. Ele chama isso de parceiros da escola, mas nós chamamos de trapaceiros da escola, pois isso acabará com a transparência. A empresa privada não presta contas dos recursos que vai administrar, o que pode levar a desvios e superfaturamentos, prejudicando a merenda e os equipamentos escolares”, alertou o deputado estadual Professor Lemos.

Por volta do meio-dia, a marcha chegou à Praça Nossa Senhora de Salete, onde a multidão se concentrou em frente à Assembleia Legislativa.

Yasmin Caetano, militante do Levante Popular, criticou o governador por tentar desestimular a participação dos estudantes na greve. “Hoje, o Levante Popular está em peso na manifestação, com inúmeros estudantes e jovens apoiando os professores contra a privatização das escolas”, destacou.

Silvana Loch, professora da rede estadual em Campo Mourão e presidenta do mesmo núcleo sindical, também esteve presente na manifestação. Ela destacou que o governo não dialogou previamente com a categoria: “Os dirigentes conheceram o projeto quando ele chegou na Alep. É mentira que houve diálogo. O governador quer vender nossas escolas, mas não vamos permitir. A escola é pública e continuará sendo de gestão pública para todos”.

Como professora estadual e integrante da Frente de Organização dos Trabalhadores (FORT), Márcia Regina da Silva, alerta que a medida preocupa as comunidades por colocar em risco o ensino público. “Eu acredito que a maioria da população não só de Curitiba, mas também do interior e do entorno vem para a luta, todos entendem a gravidade de vender a nossa escola”, diz ela.

Professores ocupam a Alep

A votação do projeto, estava marcada inicialmente para as 14h30 desta segunda-feira (3). Os manifestantes ocuparam então a Assembleia Legislativa para que pudessem participar da sessão. No entanto, a votação foi adiada para as 17h e será realizada no formato on-line.

O movimento sindical exige que o projeto seja retirado de pauta e que uma mesa de negociação seja aberta imediatamente. “Espero que o projeto seja retirado de tramitação e que o governo estabeleça uma mesa de negociação, pois ele não se sentou conosco antes do PL ir para a Alep. Suspender a tramitação e negociar é essencial”, declarou Walkiria.

Tribunal de Justiça tenta enfraquecer a greve

Durante o fim de semana, o TJPR concedeu uma liminar ao governo, afirmando ver ilegalidades no prazo de deflagração da greve e cobrando um mínimo de professores trabalhando, devido ao caráter essencial da categoria.

O deputado estadual Professor Lemos considerou a medida arbitrária. “É uma medida que tenta impedir que os trabalhadores da educação do Paraná façam greve, mas isso é um direito assegurado por lei e pela constituição brasileira. A justiça precisa rever essa decisão provisória”, afirma ele.

Apesar da judicialização, o sindicato reafirmou a continuidade da greve e está contestando a liminar judicialmente. “Esperávamos um ataque do governo e ele veio pelo judiciário. Ontem fomos notificados e já respondemos judicialmente que sempre fizemos a reposição dos dias de greve. Não haverá prejuízo pedagógico, mas precisamos que o governo permita essa reposição ao final da greve, em vez de punir os trabalhadores”, concluiu Walkiria.

Fonte: Brasil de Fato

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