Mais uma vez incendeia-se parte desse país: na semana passada, o interior de São Paulo viu os céus esfumaçarem, o ar tornar-se pesado, inclusive com mortes, e novamente suspeita-se de uma ação coordenada.
Sim, há que se entender que as queimadas já eram praticadas por indígenas (a chamada coivara), como método mais rápido de preparação do solo para plantio, e também é verdade que certos benefícios existem na composição química das cinzas resultantes; mas há enorme diferença entre preparar dessa maneira um terreno de pequeno tamanho e incendiar latifúndios a bel-prazer durante período de seca e mudanças climáticas exaustivamente observadas.
Curioso é que as propriedades sob fogo são particulares, portanto, difícil nos é imaginar arruaceiros simplesmente atacando tais propriedades de fazendeiros, não poucos deles armados e bem “protegidos” – que coragem, não?…
Ora, colegas! Assim sendo, não nos furtamos a imaginar, apoiados em crimes passados, uma ação coordenada na qual os braços longos do “aggro” apareçam, o mesmo “aggro” que apoiou o golpe de 2016 e a tentativa terrorista de janeiro de 2022, que assassina indígenas e lideranças sem-terra, militantes pelas florestas e ameaça quem lhe enfrente.
Fazendeiros com conexões políticas com a extrema-direita, ou fazendeiros que são políticos em atuação são os donos do câncer primordial do Brasil, o latifúndio, aberração de quatro séculos que concentra terra, poder e renda, amesquinhando a nossa política já não tão saudável, expulsando trabalhadoras e trabalhadores da terra e tocando-os para as periferias das grandes cidades, ajudando a manter salários baixos, reduzindo a diversidade alimentar (afinal, os produtos que intere$$am são poucos…), destruindo matas e a biodiversidade.
Tolo é aquele que apoia sem restrições o agronegócio, sem enxergar seu lado literalmente apodrecido; não sendo tolo, é cúmplice.
E, abaixo da fumaça tóxica que paira graças aos criminosos, há a falácia de que o agronegócio mantém nossas mesas fartas, quando a verdade é que grande parte dos produtos da agropecuária de ponta são destinados à exportação, restando ao pequeno e médio agricultor o mister de permitir nossas viandas; e some-se a isso o fato de os produtos do agronegócio serem commodities, ou seja, de baixo valor agregado.
É preciso sincera alucinação para se supor que o país se tornará “potência” vendendo soja, carne e leite, sem investir em educação seriamente, sem se preparar para construir sua própria alta tecnologia, sem proteger sua biodiversidade.
Ora, não fossem as caríssimas e massivas propagandas pró-agro que certas redes de TV abertas e revistas e jornais comprados a vil preço repetidamente obram, talvez a mentira do “milagre” do agronegócio não fosse tão forte nas cabeças das gentes, já que o olho vê, o estômago sente, a agora o olfato e os pulmões se ofendem…
Aos criminosos a dureza da lei, e que não haja “acordos” espúrios, como sói acontecer quando se trata do poder e dos poderosos!
O Sinpro repudia com total veemência mais esse ato lamentável e abominável, e exige investigação urgente, séria e sem recuos!
Alexsandro Sgobin é professor e diretor de Educação do Sinpro Campinas e Região
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