Faleceu no último sábado, dia 22 de novembro, em Campinas, o professor Newton Aquiles von Zuben. Formado no Instituto Supérieur de Philosophie da Université Catholique de Louvain, Bélgica, com Bacharelado em 1960-1962; Licence (Mestrado) em 1963-1966; Doutorado em 1966-1970, com tese sobre Martin Buber, orientado por Jacques Taminiaux (1928-2019), iniciou suas atividades acadêmicas na PUC-São Paulo em 1971, onde permaneceu até 1973. Ingressou na Unicamp em 1974, aposentando-se como professor titular nessa universidade, em 2001.

Publicou diversos trabalhos, entre artigos, livros e traduções nas áreas de Fenomenologia, Filosofia da Educação e Ciências da Religião. As pesquisas se concentram nas áreas de Fenomenologia, Bioética e Filosofia da religião. As atividades docentes foram nas áreas de História da Filosofia, Antropologia Filosófica e Epistemologia das ciências da religião. Em dezembro de 2021 considerou encerradas suas atividades acadêmicas institucionais com o desligamento da PUC-Campinas, depois de longo trajeto de 50 anos.

Conheci Aquiles quando, aposentado na Unicamp, veio enriquecer o curso de Filosofia da PUC, tornando inclusive seu diretor e também professor do mestrado em Ciências da Religião. Conhecia seu extraordinário prefacio ao livro de Martin Buber, “Eu e Tu”, do qual foi também tradutor. Alem deste livro publicou tambem “Martin Buber: cumplicidade e diálogo” e “Bioética e tecnologias: a saga de Prometeu”.

Para Aquiles, o pensamento de Martin Buber tem sido considerado relevante e de grande influência na Filosofia, nas Ciências Humanas e na Teologia. “Eu e Tu” é uma obra consagrada como fonte inspiradora de reflexões sobre o “encontro dialógico”, o inter-humano. Para Martin Buber, a vida como encontro transcorre na dinâmica de duas atitudes vivenciadas no par de “palavras-princípio” (Grundworten): Eu-Tu e Eu-Isso. Buber propõe uma ontologia da relação como fundamento de sua antropologia do encontro inter-humano.

Na PUC nos tornamos grandes amigos, “trocávamos figurinhas” no Facebook. Como gostava de uma boa piada tal como de uma boa pescaria! Extrovertido, exemplificava tudo na filosofia associando a uma boa pescaria . Chegamos a concluir que poderíamos estar juntos em Louvain, na Belgica, pois no mesmo tempo que fazia seu doutorado, eu, padre em crise, fui convidado pelo meu bispo a fazer mestrado em Sociologia em Louvain e recusei pois queria mesmo sair.

Milan Kundera, autor do belo romance “ A insustentável Leveza do Ser”, escreveu em seu último livro, “A Identidade”, que a amizade é indispensável para o bom funcionamento da memória e para a integridade do próprio eu. Chama os amigos de testemunhas do passado e diz que eles são nosso espelho, que através deles podemos nos olhar. Vai além: diz que toda amizade é uma aliança contra a adversidade, aliança sem a qual o ser humano ficaria desarmado contra seus inimigos.

Amigos recentes custam a perceber essa aliança, não valorizam ainda o que está sendo construído. São amizades não testadas pelo tempo, não se sabe se enfrentarão com solidez as tempestades ou se serão varridos numa chuva de verão.

Abaixo o link de uma palestra de Aquiles von Zuben sobre a dialogicidade em Buber. Meus sentimentos à sua esposa e filhos esperando que consigam superar este momento de perda e dor.

Arnaldo Lemos Filho é professor da PUC-Campinas e diretor do Sinpro Campinas e Região

 

 

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