O presidente Luiz Inácio Lula da SIlva (PT) anunciou nesta segunda-feira (23) a retomada das relações comerciais e políticas entre o Brasil e a Argentina. Em declaração à imprensa ao lado do presidente Alberto Fernández, no salão da Casa Rosada, sede do governo argentino, Lula destacou que elas “nunca deveriam ter sido truncadas” em referência aos últimos quatros anos da política externa do ex-presidente Jair Bolsonaro, que praticamente cancelou os laços com o país vizinho.

Sem mencionar o nome de Bolsonaro, Lula pediu desculpas ao povo da Argentina por “todas as grosserias que o presidente anterior do Brasil – que eu trato como genocida, por causa da falta de responsabilidade e no cuidado com a pandemia – fez ao companheiro Fernández”, afirmou. Ele disse ainda que “um país com a grandeza do Brasil” não tem o direito de fazer inimigos.

A retomada da aliança entre os dois países sul-americanos marcou a primeira viagem internacional de Lula desde a sua posse, em 1º de janeiro. Seu mandato promete resgatar a tradição diplomática brasileira. Particularmente com Argentina, que historicamente os líderes das duas nações encontravam oficialmente um ao outro antes de qualquer outra missão internacional. Uma tradição rompida por questões “ideológicas” em 2019 por Bolsonaro, que atacava Fernández por ser de esquerda.

O encontro bilateral desta segunda, contudo, também marcou a celebração de novos acordos entre Brasil e Argentina. Acompanhado pelos ministros Mauro Vieira (Relações Exteriores); Fernando Haddad (Fazenda); Nísia Trindade (Saúde); Márcio Macêdo (Secretaria-Geral da Presidência); Luciana Santos (Ciência e Tecnologia) e Paulo Pimenta (Secom), Lula fechou acordos em áreas como energia, integração financeira, defesa, saúde ciência, tecnologia e inovação e cooperação antártica.

O presidente prometeu que, até o final de seu mandato, a Argentina e Brasil terão “a melhor relação da América Latina”, numa aliança regional que será liderada por ambos. Segundo Lula, o protagonismo ao vizinho não leva uma questão de “preferência”, mas o peso da Argentina que tem uma “importância política e econômica”.

Lula defende integração

“Os nossos empresários já compreendem e precisam compreender cada vez mais o peso do que a Argentina significa para nós. Os empresários argentinos precisam compreender o que significa o Brasil para uma boa relação entre Brasil e Argentina. As nossas universidades precisam estar mais próximas. Porque uma boa relacao não é apenas comercial, mas também científica e tecnológica, uma relação cultural e principalmente política”, declarou Lula.

“Portanto quero dizer para vocês com muito orgulho que estou de volta para fazer bons acordos com a Argentina, para compartilhar da construção daquilo que falta ser construído. Ajudar com que Argentina e Brasil possam crescer economicamente, e o nosso povo possa voltar a ter condições de moradia, para garantir que possa comer pelo menos três vezes por dia, que volte a estudar, a trabalhar e ter acesso à cultura. A Argetina terminou o ano de 2022 nunca situação privilegiada, não apenas na economia e na política, mas no futebol”, elencou Lula, arrancando risadas da plateia que acompanhava a declaração conjunta dos líderes.

Pela primeira vez, segundo o petista, ele torceu para a Argentina ser campeã do mundo durante a Copa no Catar, no final do ano passado. “Eu achava que o Messi não poderia terminar a carreira sem ser campeão do mundo, foi, está bom, chega. Agora tem que ser a vez do Brasil”, brincou o presidente.

Apoio argentino à democracia

Ao dar as palavras de boas-vindas ao chefe de estado brasileiro, o presidente da Argentina destacou os novos acordos bilaterais como o lançamento de “um vínculo muito mais profundo do que tínhamos e que vai durar por muitas décadas”, descreveu. Fernández também destacou seguidos elogios a Lula, a quem chamou diversas vezes de “amigo” e “líder regional” e “grande estadista”.

“Eu vi a décadas atrás como ele iniciou um processo que tirou milhões de pessoas da pobreza no Brasil. Eu o vi, nos anos que foi presidente, como liderava a região. Sinto que hoje, quando Argentina e Brasil completam 200 anos de relações comerciais e fraternas, estamos lançando uma nova etapa. Continuam nos vinculando e relacionando os mesmos problemas que tínhamos antes. Pllo brasil passou Bolsonaro e pela Argentina (Mauricio) Macri (ex-presidente do país), e os desafios que temos são muito parecidos”, observou o líder argentino.

Ele completou ressaltando como primeiro obstáculo a consolidação das democracia e suas instituições. O que foi visto como um gesto de solidariedade e apoio às decisões de Lula após a tentativa de golpe de apoiadores de Bolsonaro, que invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes, em Brasília, no dia 8 de janeiro.

Cooperação latina

“Quero dizer a meu querido amigo que nós, argentinos, estaremos sempre ao seu lado. E não permitiremos que algum delirante coloque em perigo as instituições brasileiras. Nós não vamos permitir que nenhum fascista se aposse da soberania popular. Nos conhecemos há muitos anos e sabemos bem que nossos povos só querem viver em paz e não querem o ódio. Nossos povos querem bem estar e justiça e vamos continuar trabalhando nesse sentido, querido amigo”, enfatizou o presidente da Argentina.

Em reunião mais cedo, os presidentes também destacaram a necessidade de integrar todos os países da América Latina. Assim como fortalecer o bloco econômico do Mercosul e colocar novamente em andamento a União de Nações Sul-Americanas (Unasul). Fernández também anunciou o fechamento de um acordo com Lila para conversar nesta terça (24) com todos os líderes latinos para fortalecer uma “visão hemisférica”.

“E essa integração deve ser implementada em todos os conceitos. Temos uma história que nos une e temos que aprofundar nossos vínculos. Trabalhar pela melhor qualidade de saúde dos nossos povos. Temos que trabalhar também pela interconexão elétrica e energética que vincule melhor a vida de nossos povos. Também conversarmos sobre a possibilidade de que o gás de vaca morta chegue até o Brasil. Assim como que a eletricidade brasileira chegue a nós”, afirmou Fernández.

Celac amanhã

Lula completou que o momento é oportuno para retomar a aliança latina que atingiu seu ápice durante a chamada “onda rosa”, que uniu visões progressistas na América do Sul, no início dos anos 2000. “Eu lembro que foi o momento mais promissor de toda a nossa querida América do Sul. Nunca o sonho daqueles que morreram há dois séculos, e que sonhavam em construir uma grande nação latinoamericana, chegou tão próximo como nos momentos em que governamos esses países”, ressaltou o presidente brasileiro.

Ainda hoje, à tarde, Lula terá reunião com empresários da Argentina. Já à noite, deve ir a um concerto musical com artistas locais e brasileiros no Centro Cultural Kirchner. Nesta terça, participa da cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), depois de o Brasil ter ficado três anos de fora do colegiado continental.

Fonte: Rede Brasil Atual

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