Colega professora, colega professor: vimos novamente nesse texto deixar algumas palavras sobre a ingerência externa em nosso cotidiano de sala de aula, em nossas metodologias, em o quê e como ensinamos; já nos referimos em ensaio anterior aos famigerados grupos de pressão da extrema-direita ou ditos “conservadores”, com suas palavras e ações de ordem, carregadas de uma moral bastante discutível; pois bem, agora desejamos deixar algumas palavras sobre uma ingerência mais delicada, a saber, a de pais e mães de estudantes de escolas particulares.

Mas antes queremos deixar clara a distinção entre o ensinar e o educar, sendo o primeiro o ato de transmitir conhecimentos, dizendo de forma bastante resumida, e o segundo algo muito mais abrangente, que engloba construção de valores éticos, morais, cidadãos, e pode prescindir de um profissional (todos sabemos que, bem ou mal, as ruas educam, o cinema educa, o cotidiano educa…). Mas na vida real esses dois termos frequentemente se justapõem, atravessam um ao outro, o que equivale a dizer que dentro de uma sala de aula o docente não apenas ensina, mas forçosamente participa do educar, assim como a convivência com os colegas, o ambiente da escola, os desafios vividos educam o estudante amiúde.

Pois bem: casos de ingerência e mesmo assédio ocorrem com professoras e professores, tanto no âmbito do ensinar, como no largo mundo do educar. No primeiro caso, críticas vindas de responsáveis à forma de ensinar são frequentes, e embora possam, obviamente, ter suas razões em variados casos, em outros se chocam com a “visão de mundo” de responsáveis e os métodos do docente, gerando constrangimentos sérios ao profissional. Ora, perguntamos: estarão todos os responsáveis preparados tecnicamente para fazer tal crítica? Têm experiência em sala de aula, ou uma sólida noção das contingências que nela ocorrem? É profissional docente também? Têm razoável conhecimento sobre a Educação no país? Dialogam frequentemente com seus filhos e filhas sobre o cotidiano do aprendido? Se a resposta a alguma dessas questões for não, então teremos uma grave questão a ser levantada, pensamos nós.

Há também discussões sobre o “conteúdo” que vem sendo ensinado, e nesse caso o ato do educar se faz presente em alguns conflitos, com as noções de mundo dos responsáveis (sejam religiosas, políticas, ideológicas) indo de encontro ao que foi ministrado. Desnecessário dizer que há casos e casos, mas queremos nos referir a situações específicas de ingerência na qual o docente se vê acossado por questões de cunho ideológico/religioso/político advindos de responsável por aluno que o critica ou se propõe a argui-lo, sendo as razões para tanto fracas ou levianas. Assim ocorrendo, colega docente, e em sendo o assédio claro, porventura não havendo justiça na situação com a intervenção da Diretoria/Gestão, é seu direito procurar seu sindicato e reclamar seus direitos, no caso amparados pela liberdade de cátedra.

Direitos esses garantidos, lembremo-nos, pelos artigos 206 e 220 da Constituição, pela laicidade em escola que não sejam confessionais, para citar alguns exemplos.

Acompanhar o desenvolvimento das crianças e jovens na escola é dever dos pais e absolutamente necessária atitude, bem como questionar, imbuído do diálogo, sobre o que se ensina e se educa numa sala de aula, desde que os questionamentos não invadam e desautorizem a liberdade de ensino, expressão e pensamento de docentes, nem resvalem para o assédio.

Nestes últimos dois casos, é à pena da lei que se deve amparar o profissional que assume uma sala de aula, na justa busca de direitos garantidos, e na luta sem tréguas contra qualquer cerceamento de seu mister.

O Sinpro Campinas estará sempre a postos para formar ao lado de nossa liberdade de ensino, colegas docentes: forme conosco, sindicalize-se!

 

Alexsandro Sgobin é professor e diretor do Sinpro Campinas

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