Como se manifesta a depressão?

Com sintomas variados, que podem variar da ansiedade às formas mais graves, com ideação suicida; leve-se em conta ainda que qualquer doença tem seu caráter “objetivo” (dor, manchas, inchaços…) e seu caráter subjetivo (a saúde psicológica do paciente) entrelaçados, e na síndrome depressiva esse entrelaçamento pode ser ainda mais complexo, e teremos daí a dificuldade de estabelecer um diagnóstico. Há classificações genéricas (depressão leve, moderada e severa) e classificações mais refinadas (endógena, bipolar, reativa), mas os sintomas, em geral, são a tristeza recorrente ou persistente, fadiga, baixa alto-estima, perda do prazer em atividades antes consideradas prazerosas, pensamentos mórbidos, podendo variar muito de pessoa a pessoa.

Some-se a isso a dificuldade de muitas pessoas reconhecerem-se doentes em uma sociedade perversamente competitiva e sob a pressão incessante do “sucesso”, chamando de fracasso ou engano qualquer ação ou inação que não se coadune com a selvagem ideologia que vige na selva do capitalismo financeiro e é reproduzida por suas mídias, ideólogos, “coachs”, “influenciadores”, o cinema, etc.

E haveria mais?

Sim, no caso dos profissionais da educação: a enorme pressão por “resultados”, como se ensinar e educar fosse um simples depositar de conhecimento e sabedoria nas mentes de crianças, adolescentes e jovens adultos. De vários lados vem a pressão para quem, como nós, labuta em estabelecimentos privados: da Direção, da sociedade, dos gestores, de pais e mães, e, pasmem, até mesmo de personagens de pensamentos retrógrados dignos de serem amplamente ignorados por nós – o que não é possível, pois seus ataques são persistentes. Conte-se aí o assédio moral[1], cuja vilania e capacidade de atingir uma pessoa negativamente é por demais conhecida.

Eis aí, o quadro preocupante que leva inúmeros docentes às doenças mentais, sendo imenso o número destes que continua a trabalhar, o fardo multiplicado pelo mal do corpo e da mente.

Isso dito, o papel do sindicato é deixar claro: quais direitos têm esses profissionais atingidos pela síndrome depressiva, seja qual o estado que ela se apresente?

          Primeiro, devemos ter em conta duas questões delicadas: a já dita dificuldade do diagnóstico da depressão, e a questão de se relacionar a doença com o trabalho, no caso o ambiente de trabalho escola/faculdade/universidade. Tendo a doença ao menos três possibilidades de causa (genética, por traumas psicológicos ou por doenças), sendo possível que duas ou as três causas se entrelacem, e sendo a intensidade e variedade de suas manifestações espantosamente complexas, pareceria, à primeira vista, extremamente difícil eleger o local de trabalho como locus fortemente participante, ou mesmo principal, da construção da doença.

Infelizmente, no caso dos profissionais da Educação, ousamos dizer que não é assim: o local de trabalho é participante de altas cargas de estresse, podendo resultar em ansiedade, Síndrome de Burnout (esse assunto será tratado em textos futuros), e finalmente, em depressão. Isso posto, é mister reconhecer que educadoras e educadores estão submetidos a condições de trabalho exaustivas e quase sempre estressantes, o que permite a assunção, sem muita margem para discussões, de que o trabalho docente traz consigo ao menos duas possibilidades de “pacotes de estresse”: o próprio local de trabalho, e o trabalho que se leva para casa. Se a isso se juntam problemas pessoais sérios, o quadro é pouco otimista.

Essas concepções são importantes: sendo nosso mister profissional geralmente árido in locus e fora dele, é premente reconhecê-lo como causa ativa de sintomas depressivos em muitos casos, discutindo-se seriamente circunvoluções levianas do patronato, que apontem para “causas fora da escola”, “falta de vontade”, “mau comportamento do docente”, “dificuldade em vestir a ‘camisa’ da escola/Universidade/faculdade”, entre outras tiradas reprodutoras do preconceito e desconhecimento sobre a depressão e suas múltiplas manifestações, e sobre a gravidade da síndrome[2].

Continua…

[1]     Entendamos assédio moral como palavras, gestos, comportamentos, burocracias, atitudes, que sejam sistemáticas, repetitivas e possam causar dano ao profissional, inclusive e obviamente, psíquicos.

[2] A OMS estima que a depressão será a principal doença  mais comum em 2030, em nível mundial.

Alexsandro Sgobin é professor e diretor do Sinpro Campinas e Região

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