Dos poderosos grupos educacionais

Não é desconhecido de quem trabalha na Educação o poder dos grupos privados que se organizam em torno e dentro do ensino privado brasileiro; nem a capacidade de vários desses grupos em ofertarem material de qualidade, ao menos na apresentação, construídos de forma a serem bastante convincentes e convidativos ao primeiro olhar. Contudo, queremos examinar mais a fundo no caso desse ensaio a questão de tais materiais, em relação às ideologias que vêm junto a eles, e a desvalorização do trabalho do docente em sala de aula.

Primeiro, é preciso discutir seriamente a questão ideológica imbuída na maioria desses materiais: não resta dúvida que incutem fortes noções do capitalismo financeiro (a forma de capitalismo que vivemos atualmente), bem como ideias dele oriundas, como a meritocracia, a importância do “mercado[1]”, a visão de vida ancorada num materialismo que não admite contestação, a fantasia do sucesso espetacular que fatalmente chegará a todas e todos que se dispuserem a trabalhar duro e a seguir os conselhos quase messiânicos dos gurus que gesticulam furiosos em palestras “motivacionais”; apenas ocorre que não é assim. Um dos fundamentos basilares do capitalismo é a concentração de renda, religiosamente seguida, o que sem muito esforço deixa entrever que pouquíssimos serão os escolhidos (escolhidos, frise-se) para ascender à Montanha de Ouro.

Aí, a cooperação, exercício fundamental para a sobrevivência de uma sociedade, não é mencionada; a Ciência aparece como uma produtora de maravilhas rentáveis, e se olvida seu caráter principal de desveladora de fenômenos e da vida; o que é essencialmente humano (ou deveria sê-lo) é escamoteado pela ânsia do “sucesso”, raízes fundas na competição mais feroz. A criatividade assume a missão de gerar cifrões no futuro, e a Arte assume contornos apenas de propaganda em um negócio que o estudante deve começar, como futuro empreendedor.

Que dizer das indagações filosóficas, dos problemas que as Ciências Sociais levantam?

Desnecessárias estas para os Gigantes da educação privada, pois nada produzem de concreto e aurífero, e inclusive assustadoras, uma vez que fazem perguntas comprometedoras que podem chegar a eles, Gigantes, e questionar seus pés feitos de barro, fel e segredos desabonadores…

Quanto a mestra e ao mestre, cabe a estes apenas reproduzir aquilo que recebem em forma de apostilas, livros, filmes, sítios na Internet e nos vários cursos de “formação” que receberão ao serem alocados no pacote; para facilitar o trabalho em seu magistério, basta seguir o capítulo e o assunto, dissertar brevemente sobre o que já está posto em papel ou em tela, aplicar as questões e conferi-las…com as respostas, também já “sugeridas” de antemão.

Repetir o que já está pronto, repetir para a criança na escola e para o adulto no Ensino Superior, conferir, relatar, preencher, calcular, em horas de trabalho cada vez mais exaustivas, há que estar ocupada/ocupado sempre, de novo a repetir o que já está pronto, repetir para a criança na escola e para o adulto no Ensino Superior, conferir, relatar, preencher, calcular, em horas de trabalho cada vez mais exaustivas…ad nauseam.

Eis aí o docente reduzido a uma máquina reprodutora de assuntos, operário de botões e canetas, assessorado (e vigiado) on line, pequena peça que se conecta a máquinas de máquinas, perfeitamente descartável caso apresente defeitos insuportáveis para os Gigantes, como adoecer, questionar, invocar a crítica nos alunos, ou, imperdoável pecado capital, ser um progressista…

Bem, caro colega de profissão: que se nos apresente em quais das linhas deste brevíssimo ensaio dissemos uma inverdade; onde criamos um exagero e não uma situação empiricamente notada por vários de nós; lançamos esse desafio aos Gigantes!

Com todas as letras diremos sempre “não!” ao nivelamento dos pensamentos propostos pelos Gigantes do lucro na educação, e lançaremos a crítica mais fundamentada, e por isso mesmo mais dura, ao lucro em detrimento do que é humano, à estupidez das ideologias reducionistas, ao capital que pretende, desde sempre, surrupiar mentes e corpos, amalgamando-os como massa acrítica e dócil pronta a derramar rios dourados que jamais encherão seus próprios copos…

Forme conosco nessa luta! Sindicalize-se!

[1]     Lembremos que o “mercado” não é uma entidade “invisível”, mas bilionários, especuladores, banqueiros, megaempresários, concentrando quantias assombrosas de dinheiro, de capital e de poder.

Alexsandro Sgobin é professor e diretor do Sinpro Campinas e Região

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