Na manhã da próxima sexta-feira, 11 de agosto, a União Campineira dos Estudantes Secundaristas (UCES) irá promover um ato em prol da Educação, no Largo São Benedito, em Campinas, a partir das 8h. Segundo a presidenta da entidade, Ana Karollina, a expectativa é que cerca de 400 estudantes de várias escolas das redes pública e privada compareçam ao evento. O objetivo é chamar a atenção da sociedade para uma série de reivindicações da juventude, como a revogação do Novo Ensino Médio e o repúdio à intenção da Prefeitura Municipal de abrigar uma unidade da Escola Cívico-Militar na cidade.

O Sinpro Campinas e Região, que apoia a iniciativa, conversou com a líder estudantil, recém-formada pela Escola Estadual Carlos Gomes, sobre este e outros assuntos.

Sinpro Campinas – Uma das bandeiras mais urgentes dos estudantes secundaristas é o Novo Ensino Médio, que foi suspenso pelo governo Lula, mas não revogado. Por que este modelo deve ser revogado?

Ana Karollina – O Novo Ensino Médio não dialoga com os desafios da minha geração. O que ele propõe é flexibilização do currículo, ampliação da carga horária, mudanças no Enem e vestibulares, entre outros pontos que não condizem com a realidade dos jovens estudantes. O aumento da carga horária, por exemplo, aumentou a evasão escolar no Brasil. Isso porque muitos estudantes já estão no mercado de trabalho – e para a maioria é impossível conciliar. Tem também a questão de os alunos poderem escolher o que querem estudar. A princípio isso parece ser uma coisa positiva, mas isso não os prepara para o Enem e para o vestibular, que exigem uma visão ampliada de mundo.

Sinpro Campinas – A eleição do Lula representou um alívio para o movimento estudantil, mas a realidade ainda impõe uma postura ofensiva dos estudantes. Quais são os maiores desafios a serem enfrentados no próximo período e qual será a posição da UCES?

Ana Karollina – Lutamos muito pela eleição do Lula e estamos aliviados de fato, porque agora temos a possibilidade de dialogar, né? Agora conseguimos entrar pela porta da frente e sermos ouvidos pelo governo. Mas é importante dizer que a eleição do Lula não é a solução de todos os nossos problemas e a luta tem de continuar. Antes de eleger o Lula, nosso objetivo era derrotar o fascismo e tirar Bolsonaro do poder. Nós conseguimos em parte, porque a situação que ele deixou na Educação é de terra arrasada. Então temos muito trabalho pela frente e vamos seguir nas ruas por nossos direitos e em defesa da democracia.

Sinpro Campinas – Recentemente, o prefeito de Campinas declarou que não iria se opor a receber uma unidade da Escola Cívico-Militar na cidade, caso o governo estadual ofereça. O que a UCES pensa a respeito?

Ana Karollina – Esse é um modelo que não faz sentido dentro de uma democracia. A Educação é responsabilidade de professores, não de militares. Além disso, a Escola tem de ser um ambiente livre e não repressor. É um retrocesso que gera vigilância aos professores e repressão aos alunos. Será enfrentado pelos estudantes nas ruas, caso venha a ser cogitado.

Sinpro Campinas – Como você definiria os estudantes da sua geração? Quais são seus principais anseios e sua visão de mundo?

Ana Karollina – A geração que hoje está no ensino médio é a geração pós-pandemia. Ninguém fala muito sobre como a gente se sente, mas fomos os primeiros a ter contato com a educação à distância, ou com a transição do online para o presencial, e isso não foi uma coisa tranquila. As relações interpessoais no ambiente escolar são importantíssimas para os jovens, mas só recentemente pudemos vivenciar isso. Tem também o sentimento de insegurança em relação ao futuro, que vem do período da pandemia e do bolsonarismo, que só agora está começando a ser superado. Mas ao mesmo tempo – e talvez por ter passado por tudo isso – a minha geração luta muito e se adapta fácil a novas realidades. Tenho muito orgulho dos estudantes secundaristas e sei que temos muito a contribuir com o País.

Sinpro Campinas – Como você vê a participação dos professores e dos sindicatos na luta dos estudantes? O quão importante é essa união de forças pela Educação?

Ana Karollina A Educação é a ferramenta principal da transformação da sociedade, né? Então é importante que todos estejam juntos na luta. Quanto mais gente unida, melhor. E da mesma forma que os estudantes sempre estivemos solidários aos professores na luta por melhores salários e condições de trabalho, esperamos que eles estejam juntos com a gente também, cada vez mais, porque no fundo é a mesma luta. Do sindicato nem preciso falar. O Sinpro Campinas é uma referência. A gente tem a consciência de que defender os professores é defender os estudantes. E é defender a democracia também.

Bruno Ribeiro, para o Sinpro Campinas e Região

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