Depois de sofrer uma série de reveses na Câmara dos Deputados, Lula conseguiu, na semana passada, aprovar o novo marco fiscal, essencial para o financiamento de seus programas sociais.
“Isso mostra que dentro da correlação de forças políticas, ou seja, dentro das elites políticas, ele (o governo) conta com uma capacidade de organizar e ter seus projetos aprovados”, algo vital e muito complicado em um Congresso majoritariamente conservador, afirma a professora de Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Mayra Goulart.
Mas esse apoio tem um preço: espera-se que Lula faça uma reforma ministerial em breve para recompensar, com pastas, os partidos do “Centrão” que o apoiaram em votações no Congresso.
Outra grande vitória foi a aprovação, no início de julho, de uma reforma tributária, esperada há décadas pelo setor econômico. O projeto ainda precisa ser votado no Senado para ir a sanção presidencial.
A agência Fitch Ratings elevou a classificação da dívida soberana do Brasil de BB- para BB há um mês, dando destaque positivo para essas reformas econômicas.
“Essas medidas: tributária, marco fiscal e de recomposição da base fiscal formam um conjunto que vão trazer uma taxa de crescimento maior, sustentável do ponto de vista da inflação, social, e também ambiental”, disse na quarta-feira o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, à margem da cúpula do Brics em Joanesburgo, onde Lula também marcou presença.
A inflação parece controlada (3,99% em 12 meses até julho), o que levou o Banco Central a reduzir a taxa da Selic em agosto pela primeira vez em três anos, um corte reivindicado por Lula desde o início do mandato.
Embora veja as reformas como uma “sinalização importante” do governo, o economista Pedro Paulo Silveira levanta dúvidas: “O primeiro é o ponto de partida, que é o déficit primário ainda elevado, que o governo quer resolver por um caminho que me parece ser difícil, que é de aumentar a receita”.
Os especialistas preveem um crescimento do PIB entre 2% e 2,5% este ano, embora o contexto econômico permaneça incerto e o governo tenha gerado grandes expectativas sociais, que passam pelos gastos públicos.
Melhoras ambientais
Ao mesmo tempo em que conseguiu superar parcialmente a desconfiança do meio empresarial, Lula também obteve, pela primeira vez em seu mandato, mais opiniões favoráveis (50%) do que desfavoráveis (46%) entre os evangélicos, um vasto eleitorado que havia apoiado massivamente Bolsonaro.
Para Goulart, isso se explica principalmente pela “desativação da polarização, da radicalização”.
Além disso, Jair Bolsonaro e pessoas próximas a ele foram atormentados por vários escândalos judiciais.
Bolsonaro ficou de fora da disputa para as próximas eleições presidenciais de 2026, depois de ter sido declarado inelegível por oito anos por divulgar informações falsas sobre o sistema eleitoral.
Enquanto isso, Lula cuida da sua reputação internacional. No início deste mês, ele recebeu líderes de países amazônicos em uma cúpula para preservar a floresta em Belém, onde a conferência climática COP30 da ONU será realizada em 2025.
Os movimentos ambientalistas lamentaram a falta de anúncios concretos, mas o Brasil saiu fortalecido “como país incontornável no debate do clima”, considera Paz Neves.
Acima de tudo, porque Lula pode orgulhar-se de um saldo inicial promissor: durante os primeiros sete meses de mandato, o desmatamento na Amazônia caiu 42,5% em relação ao mesmo período de 2022.
Com informações do UOL