No dia 9 de julho deste ano, ao participar de um encontro de promoção da indústria de armas, um notório deputado pertencente ao núcleo familiar bolsonarista apareceu em um vídeo externando seu ódio aos professores, colocando-os como piores do que traficantes de drogas.

Segundo ele, os professores são os maiores culpados pela existência de desavenças e divisões no seio das famílias.

Qual poderia ser a razão para que uma categoria profissional tradicionalmente considerada de fundamental importância para o desenvolvimento da sociedade tenha sido retratada como o que de mais nocivo exista?

Seria muito difícil encontrar uma resposta satisfatória para esta questão sem levar em consideração a visão de mundo e a filosofia política que orientam tanto ao deputado bolsonarista a quem fizemos referência como aos bolsonaristas de modo geral.

Para início de conversa, queria relembrar uma observação que fiz há algum tempo quando procurei esclarecer que a forma mais apropriada de se referir ao bolsonarismo era qualificá-lo como a versão brasileira do nazismo.

As razões ali esgrimidas para justificar essa minha opção me parecem permanecer inteiramente válidas, e até mesmo reforçadas, neste instante em que nos encontramos.

Bem, já que o bolsonarismo é a versão brasileira do nazismo, é mais do que necessário trazer de volta à memória qual era a principal característica do nazismo em sua relação com a formação da consciência pública.

Joseph Goebbels era o ministro da propaganda de Hitler. Foi ele quem cunhou o célebre slogan: “Uma mentira repetida mil vezes passa a ser uma verdade”.

De tudo o que o nazismo já produziu, este é, sem dúvidas, o ensinamento mais valioso, aquele que todos os seus seguidores ao longo do tempo vêm cultivando e pondo em prática.

Em vista disto, como o bolsonarismo também é nazismo, não poderia ser diferente em nossa atualidade brasileira.

O que o teórico da comunicação nazista queria dizer com sua tese é que a repetição constante de uma mentira tende a se sedimentar no cérebro de quem a recebe e, com o passar do tempo, passa a ser irrefletidamente aceita como uma verdade absoluta.

Para que assim seja, é muito importante que não haja brechas por onde entrem visões que se contraponham à mentira que se quer consolidar. E é disto que decorre o enorme ódio contra a atuação dos professores.

Qualquer professor de boa índole sabe que a essência de seu papel no trabalho educativo é ajudar seus alunos a desenvolverem sua capacidade crítica de analisar o mundo.

O professor de verdade é aquele que está comprometido com os interesses da humanidade, aquele que tem por objetivo tornar a seus alunos seres capazes de processar as mensagens recebidas de modo a que sirvam para ajudá-los a construir um mundo mais justo e digno.

Em vista disto, um professor com esta característica e com esses objetivos jamais atuará no sentido de permitir que seus educandos se transformem em meros repetidores daquilo que é bombardeado em sua mente.

Em consequência, o professor realmente solidário com a luta de seus alunos por seu crescimento e pelo desenvolvimento de sua humanidade é de fato um grande obstáculo para o projeto nazista de se assenhorar de sua mente em construção.

Ao incentivar o uso do raciocínio crítico, o professor impede que a tese goebeliana se difunda e se expanda da maneira como os nazistas-bolsonaristas gostariam que ocorresse.

Então, no entendimento dos adeptos do nazismo, todos deveriam receber apenas aquelas visões de mundo que condizem com os postulados por eles apregoados. Por isso, não é à toa que odeiam os professores de mentalidade aberta.

Segundo eles, nossas crianças e todo nosso povo deveriam somente se informar e se formar através das mensagens curtas e repetitivas transmitidas pelas redes digitais sob seu controle, sem nenhuma possibilidade de confrontação com outros posicionamentos.

Em decorrência do que acabamos de expor, está mais do que justificado o ódio ferrenho que os nazistas-bolsonaristas nutrem por aqueles que se preocupam por ajudar-nos a raciocinar.

A capacidade de reflexão é de veras um veneno mortal para a consolidação de uma sociedade inspirada no nazismo.

Sendo assim, insistindo neste ponto, como o bolsonarismo é a atual versão brasileira do nazismo, podemos compreender perfeitamente quais são as razões que motivaram o deputado bolsonarista já citado a proferir tão terríveis ofensas à categoria dos profissionais da educação.

Jair de Souza é mestre em linguística e economista formado pela UFRJ

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