A precarização do trabalho e o trabalho docente- Parte II

Esses ataques recorrentes do neoliberalismo e do ultraliberalismo ao mundo do trabalho acabam por derruir as bases de uma certa segurança construída às custas de enorme esforço de trabalhadoras e trabalhadores, recobrindo ruínas com a tinta dourada do “empreendedorismo” e das fantasias meritocráticas do discurso capitalista mais virulento. Ora, quando essa onda causa estragos mesmo em classes trabalhadoras historicamente mais organizadas, como os operários e operárias das fábricas, o que não fará nas escolas, faculdades e universidades privadas, que são onde trabalhamos? Na maioria desses espaços ninguém poderá negar que o lucro é um fim necessário não apenas para a manutenção de sua existência, mas amiúde também assume lugar de primeira importância; e aí não estão contidos a sua saúde mental e física, e às vezes sequer seus objetivos na carreira, colega, estejamos disso certos.

É simples chegar à conclusão de que, em espaços que sempre foram atrelados em sua maioria às lógicas capitalistas, como escolas e faculdades privadas, os braços dessa lógica sejam muito mais longos em nossos dias; que nesses espaços o terreno para as “flexibilizações” seja muito mais fértil e a precarização, agressiva.

É preciso que a esse estado de coisas juntemos a desvalorização do trabalho docente, as cada vezes mais reiteradas tentativas de substituir nosso mister por “pacotes” e programas digitais, as doenças mentais que tiveram assustador aumento diagnosticado por conta da pandemia e do pós-pandemia, os ataques mortais a escolas, a invectiva fascista dos anos 2019-2022, e teremos um quadro bem pouco convidativo. Nesse cenário, professoras e professores com alto custo mantém seu trabalho produtivo, responsável e com imensa dedicação, à sombra de uma demissão, de assédios, da falta de respeito acachapante de governos de variadas esferas, de partes substanciais da sociedade “conservadora”; como, nesse universo, chamar para a docência jovens formados nas licenciaturas? Como atrair novos docentes, se deles não iremos, não devemos esconder sobre as lutas que enfrentará, muitas delas injustas?

Colegas, atentem! Esse não é um canto de cisne, nem uma confissão de derrota: é um chamado à luta! Mais embates, além dos que já enfrentamos, poderá se perguntar? Sim, colegas; queremos crer que os discursos fantasiosos do sistema de lucro capitalista são sedutores a ponto de conquistar vários de nossos colegas, desorganizando a base, enfraquecendo muito a união, a todos e todas procurando colocar em vagões isolados num trem cuja locomotiva acelera apenas em busca de algo: lucratividade, ainda que no futuro apenas a locomotiva sobreviva!…

Sem organização e união responsáveis, alicerçadas na compreensão do mundo atual, amparadas no estudo sério das coisas e dos agentes que nos rodeiam e fazem nosso cotidiano, a precarização poderá nos tornar engrenagens de papel numa máquina cada vez mais abalada: a máquina do emprego, a ser substituída pelas máquinas do trabalho mal pago, facilmente desmontáveis e remontáveis alhures ou simplesmente descartadas.

Isso lhe parece correto? Soa justo?

Combater o bom combate, colegas professoras, colegas professores! Organização e estudo!

Formemos juntos, formar com toda nossa classe, forme-se ao lado de seu sindicato, avançar, pela importância e respeito que nosso mister merece!

Alexsandro Sgobin é professor e diretor de educação do Sinpro Campinas e Região

 

 

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