Já falei, em crônica aqui mesmo publicada, das que considero “minhas poetas de Campinas”, Quinita Ribeiro Sampaio, Marina Becker e Ilka Brunhilde Laurito. Não falei ainda de Cida Sepulveda, mas falarei o mais breve possível. Cida é poetisa de talento e tem uma obra de respeito. Vereis, leitoras pacientes, leitores calmos, de que e de quem estou falando, a seu justo tempo, no momento certo. Também falarei de alguns poetas que, nascidos nestas Campinas ou fora delas, aqui versejaram boa e belamente.

Hoje meu assunto são poetas de outros rincões. São escritores dos quais quase não se ouve falar. E que, no entanto, fazem prodígios com as palavras. E contribuem para que a fé e o império se dilatem mais e mais. A fé no ser humano. O império da beleza.

Também este cronista não saberia falar desses novos poetas não tivesse tido a sorte de lhe cair nas mãos uma agenda editada pelo sindicato dos professores. A cada mês da agenda corresponde o nome de uma ou de um poeta, cujo breve currículo e um breve excerto poético são estampados em folhas coloridas, com o rosto do ou da artista.

Os olhos de nossos antepassados
Colhem as nossas perenes lágrimas
Pelos mortos de hoje.

Este é o primeiro terceto do poema “Certidão de Óbito”, de Conceição Evaristo. Não conhece? Poderia conhecer. Afinal, Conceição, em 2015, ganhou o prêmio Jabuti de literatura com o livro “Olhos d’Água”. Além disso, seus contos, suas crônicas e seus poemas já ganharam mundo. São traduzidos e estudados em muitos países, especialmente na Europa.

A terra está coberta de valas
E a qualquer descuido da vida
A morte é certa.
A bala não erra o alvo, no escuro
Um corpo negro bambeia e dança.
A certidão de óbito, os antigos sabem,
Veio lavrada desde os negreiros.

A última parte do poema termina com os dois versos cujo tema faz pensar em Castro Alves. A forma, claramente, é toda outra.

Maria da Conceição Evaristo de Brito é mineira de Belo Horizonte. Nasceu em 1946, de berço humilde. Nos anos de 1970 mudou-se para o Rio, onde exerceu o magistério na rede pública de ensino. Obteve o título de mestre em literatura brasileira pela PUC-RJ e galgou o doutorado em literatura comparada pela Universidade Federal Fluminense. Participou ativamente dos movimentos de valorização da cultura afro-brasileira.
A estreia de Conceição Evaristo na literatura deu-se em 1990, quando começou a escrever para a revista “Cadernos Negros”. Ascendeu rapidamente no cenário literário brasileiro, tendo em 2015 obtido o valoroso prêmio Jabuti.

Mesmo com a consagração, continua olhando com atenção para os temas étnicos que formam a raiz de sua consciência artística e de seu perfil poético:

Os olhos de nossos antepassados
Negras estrelas tingidas de sangue
Elevam-se das profundezas do tempo
Cuidando de nossa dolorida memória.

Sérgio Castanho é professor de História da Educação na Unicamp e titular do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Campinas (IHGG).

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