
A ascensão de ideologias extremistas pelo mundo, agora fortalecidas pela posse de Donald Trump nos EUA, sem dúvida penetrou pelos porosos muros da escola, como era de se esperar, e falas ásperas e assustadoras são ouvidas aqui e ali vindas de crianças e jovens, reverberando discursos de ódio, reprodução de mentiras (da qual vive a hidra fascista/neonazista), visões de mundo nada democráticas, distorção absurda de fatos, punitivismo, misoginia, racismo, xenofobia, ora, todo o cabedal infecto no qual a extrema-direita refocila e se fortalece.
Seria simplista (e na verdade, confortável) dizer apenas: “isso veio dos pais, provavelmente!”. Mas, embora lamentavelmente isso possa ser verdade em muitos casos, o fato é que assim afirmando desprezamos o livre-arbítrio e a inteligência das próprias crianças e jovens, capazes de procurar por iniciativa própria na Rede e nas redes sociais, por exemplo, fragmentos ideológicos e informação, seja ela boa ou perversa. E as famigeradas polêmicas atuais de Zuckerberg e sua Meta, além de Musk, ambos afeitos a apoiar extremistas de direita e a “liberalizar” seus produtos em prol de discursos venenosos e/ou criminosos, deixa isso escancarado.
E, respondendo a pergunta no título, sim, acreditamos que a escola seja a vela na escuridão que se adensa pelo mundo e, claro, pelo Brasil. Qual é, qual deve ser, o papel da escola, além de instruir? Ora, educar para o diálogo, o debate sadio, a compreensão, a democracia em sua definição mais larga o possível, combatendo a informação falsa, maldosa ou leviana, propondo e fazendo a crítica social, encampando com todas as suas forças a cooperação acima da competição. Se ela se omite desse papel, torna-se cúmplice da aleivosia extremista, apodrece seus alicerces e convida o fanatismo a adentrar seus espaços e espalhar sua metástase.
Por mais falhas que o sistema escolar brasileiro tenha, a própria natureza do espaço de aprendizagem carrega consigo a diplomacia e o diálogo, sem o qual teríamos provavelmente a violência em suas muitas formas como regra. A existência de professoras e professores progressistas, de crianças e jovens abertos a ouvir é ainda poderosa em suas potências, e o enfrentamento contra a estupidez e a malvadez orgulhosas da extrema-direita é diário para essa essas mentes – eis o lume sempre bem-vindo.
Alexsandro Sgobin é professor e diretor de Educação do Sinpro Campinas e Região