
Em setembro de 2023 um jovem negro, homossexual, balconista em uma farmácia, postou um vídeo em que discutia o excesso de trabalho e pautava o fim da escala 6X1 (o trabalhador/a trabalhadora trabalha seis dias na semana e folga um). Rick Azevedo, o jovem balconista e hoje vereador no Rio de Janeiro dizia: “Eu não tenho filho, não tenho marido, sou sozinho e não consigo fazer as coisas, imagina quem tem tudo isso e casa para cuidar. A pessoa se doa para a empresa seis dias na semana e só tem um dia para folgar, isso para ganhar um salário mínimo”.
Rick deu origem ao Movimento VAT (Vida Além do Trabalho), que ganhou apoio de milhares em pouquíssimo tempo e exige imediata atenção dos sindicatos no apoio sério e combativo a essa iniciativa partida de um trabalhador (e que lição nos ensina isso!) que se dispôs a enfrentar a sanha lucrativa a que o neoliberalismo nos relegou, com trabalho em excesso e lazer mínimo (isso quando o lazer é possível), adoecendo trabalhadores, reduzindo esperanças de vida, precarizando o trabalho de forma torpe.
Em suma, viver para trabalhar, e trabalhar sem realmente viver – quê?? Ora, mesmo com todas as conquistas das classes trabalhadoras, dos movimentos progressistas, do sindicalismo, que foram havidas com muito suor e sangue, as investidas do capitalismo são recorrentes e elas sempre serão direcionadas a sugar aos trabalhadores a última gota de esforço, aumentando a carga de trabalho (chamando a isso “vestir a camisa”), exigindo sua exclusiva criatividade para sua função numa empresa/escola/serviço/comércio (é o famigerado brainstorm…para a produtividade. Nada de criar em casa, sem lucro!), de preferência sem direito algum, com horários estapafúrdios e riscos nada desprezíveis na função (a isso chamam…”empreender”).
O Brasil, atualmente empestado de ideias e movimentos de extrema-direita, obviamente sofre ataques interruptos dos que defendem uma semi-escravidão hodierna no trabalho, tendo ainda a covardia de afirmar que isso é moralmente bom (“o trabalho liberta”? Vemos essa frase de lembranças tenebrosas estampada nas testas de muitos desses), mesmo que ao fim reste do trabalhador e da trabalhadora apenas um corpo doente e uma mente cansada – triste casca. Ao mesmo tempo, na Europa empresas assistem aos bons resultados de uma escala 4X1, que não reduziu a produtividade (inclusive dados mostram que essa aumentou nas empresas que a mensuraram), o que mostra a possibilidade de sucesso da diminuição da jornada de trabalho sem redução salarial.
Mas, não sejamos ingênuos: em países europeus onde a escala 4X1 foi aceita, a aceitação só se deu com intensa luta, e pela clara percepção do patrão de que os resultados colhidos foram bons. O capital nada faz por bondade, e com o perdão do adjetivo, sorna é aquele que acredita nas boas intenções dos donos dos meios de produção.
Pois bem, imagine-se as batalhas que serão exigidas em relação a esse assunto no Brasil atual. Por isso os sindicatos são conclamados a apoiar o fim da escala 6X1, apoiando se forma aguerrida o trabalho saudável, a qualidade de vida merecida, a ruína absoluta do sistema de exploração! E o Sinpro-Campinas e Região está aí presente, nisso se pode fiar, colegas trabalhadores e trabalhadoras!
Alexsandro Sgobin é professor e diretor de educação do Sinpro Campinas e Região