Muitos de nós podem se recordar de nossos avós ou pais usando essa expressão, bastante em voga antigamente (esse que lhes escreve a ouviu bastante trinta anos atrás); era bastante utilizada quando se queria demonstrar espanto ou surpresa, preferencialmente em relação a algo negativo. Diz-se ter nascido de uma disputa de interventores em Minas Gerais dos anos 30, quando se discutia, em expectativa, se Benedito Valadares seria o escolhido por Getúlio Vargas – que demorou para decidir-se, daí a expressão.

Pois poderíamos recordá-la, não por pândega, mas pelo espantoso (e acintoso) de certa situação que remete a recente decisão do STF em favor do pagamento de tempo de recreio/intervalo às professoras e professores, reconhecendo que esse período é hora ativa e que durante essa breve pausa é muito comum que sejamos chamados a resolver pendências, ou a reuniões ultrarrápidas, a discutir com os colegas problemas sobre provas, alunas e alunos, projetos, ideias, sugestões…em outros termos, não nos dedicamos a tirar a siesta durante esses minutos.

A última afirmação poderia até soar cômica não fosse o comunicado posto pelo SIEEESP, o sindicato patronal, sobre o assunto em sua página na Internet, e vale reproduzir alguns trechos para se ter a dimensão da coisa:

“Diante desse cenário, orientamos que as escolas procedam da seguinte maneira:

– Comunicar formalmente aos professores que durante esses períodos não estarão à disposição da escola e que poderão utilizar desse tempo para realização de tarefas particulares, de cunho pessoais;
– Não convocarem os professores para nenhuma tarefa durante esses intervalos, deixando-os, de fato, livres para que eles se dediquem as atividades de cunho estritamente pessoal e até mesmo se ausentarem do local de trabalho;
– Incluir cláusula no contrato de trabalho ou aditivo ao contrato de trabalho deixando claro essa situação; e
– Solicitar e fiscalizar a marcação de ponto durante esses intervalos[ Acessado em 24/11/2025.]”.

Vejam bem, colegas: no afã desesperado de garantir que nenhum valor seja acrescido às nossas jornadas, os patrões chegam a abrir mão de nossa presença nos espaços das escolas, afirmando que esse valor, se pago, quebraria escolas, fecharia turmas etc, etc., como já disseram eles mais de uma vez.

Isso nos lembra as vozes que berravam no passado sobre “o fim da economia e do país” (talvez, do mundo e das estrelas…) se se aprovasse o 13° salário, recordam-se? Infelizmente, mas sem que seja surpresa alguma, o que o patronato deixa de dizer é que na verdade os interessantes lucros sofreriam diminuição com o pagamento do período de recreio/intervalo, e é aí que se fiam os empresários para tentar aplicar nas escolas as “orientações” acima expostas.

Sendo assim, colega professora e colega professor, o SIEEESP solicita que corramos a bater cartões de ponto ou assinar presença duas vezes mais além das já comuns, mas, vejam!, nos abre possibilidades quase infinitas durante o recreio/intervalo, e podemos sugerir algumas, se as “orientações” já elencadas forem levadas à sério, quer dizer: poderíamos dormir no chão da sala de aula, jogar basquete, compor uma música, olhar para o nada, começar a escrever um romance épico, passear pelos quarteirões adjacentes ao prédio escolas/universitário, contar piadas, fazer uma roda de samba, qualquer coisa desde que não representasse trabalho, para que assim não se sinta o patrão constrangido a nos pagar o “descanso” conforme decidiu o STF, não custa lembrar.

Ora, mas será o Benedito?! A que contorcionismos se aplica o patronato para não acrescentar um único real a nossos esforços!
Seria engraçado se não fosse deplorável…!

Alexsandro Sgobin é professor e diretor do Sinpro Campinas e Região (Foto: Agência Brasil)

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