No Brasil em 2019, o rendimento bruto médio mensal de profissionais do magistério com nível superior completo atuantes em redes públicas da educação básica correspondia, em média, a 78% do valor registrado para outros profissionais assalariados com mesmo nível educacional, segundo o “Relatório do 3º ciclo de monitoramento das metas do Plano Nacional de Educação (PNE)”. O físico Mauricio Pietrocola, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FE-USP), observa que além de salários insuficientes e classes lotadas, deficiências de aprendizagem acumuladas pelos alunos em toda a sua trajetória educacional são outros desafios enfrentados por docentes que, muitas vezes, acabam por desistir da profissão. “Vivo encontrando ex-alunos da licenciatura em física trabalhando em bancos. Muitos me dizem que gostariam de ser professores, mas optaram por prestar concurso para trabalhar em bancos públicos pelas melhores condições laborais”, relata Pietrocola, que é coordenador de projeto de pesquisa financiado pela FAPESP voltado à busca por estratégias inovadoras no ensino de ciências naturais.

A falta de docentes para atuar na educação básica é um fenômeno que vem se agravando nos últimos anos e, para ser mais bem compreendido, deve ser analisado em perspectiva histórica, segundo Pietrocola, que estuda a questão há cerca de 40 anos. De acordo com o pesquisador, entre 1970 e 2000, a escassez docente estava relacionada, principalmente, com a rápida expansão na quantidade de matrículas.

Ao recordar o cenário passado de crescimento acentuado em matrículas da educação básica, Lúcia Teixeira, presidente do Semesp, entidade que representa mantenedoras de ensino superior no Brasil, menciona que, entre as décadas de 1980 e 1990, o governo federal autorizava a contratação de pessoas sem formação na área para lecionar em escolas. Esse cenário começou a mudar em 1996, com o estabelecimento da Lei de Diretrizes e Bases (LDB), ou Lei nº 9.394, segundo a qual professores são obrigados a ter formação na disciplina que oferecem. “Porém essa diretriz da LDB ainda não é integralmente cumprida”, afirma Teixeira. Em 2021, o número total de professores atuantes na educação básica foi de 2,2 milhões, segundo o Inep. Já a quantidade de docentes lecionando no ensino fundamental II caiu de 779 mil para 753 mil de 2016 a 2021, conforme pesquisa do Instituto Semesp divulgada em 2022. Os valores correspondentes para o ensino médio no mesmo recorte temporal foram de 520 mil e 516 mil. O Instituto Semesp estima que o déficit de professores na educação básica pode chegar a 235 mil em 2040.